Uma simbiose do além – Parte 1
por Alex Dias Ribeiro
“A grandeza do homem repousa na consciência de ser miserável. Uma vez reconhecido o vazio interior, cria-se um vácuo em que Deus pode entrar. Esse abismo infinito só pode ser preenchido por algo infinito e imutável, ou seja, Deus.” (PASCAL)
Cansado de tantos votos de Feliz Natal vazios de significado e de tanta comilança e bebedeira, longe do verdadeiro espírito da festa, acordei cedo, montei na bicicleta e meti o pé na estrada, solitário, naquela manhã de Natal em Brasília. Depois de horas pedalando, entrei morto de sede em um mercadinho à beira do caminho. Junto com o troco, adivinha o que a moça do caixa me deu? Isso mesmo! Mais um “Feliz Natal barato”.
Retribuí a gentileza com o meu melhor sorriso plástico, bebi o litro de água de coco de uma só virada, e comecei a pensar: o que pode haver de novo debaixo do sol em termos de espírito do Natal? Bem informados, já sabemos de tudo sobre Maria e o nascimento do menino Jesus. Mas e daí? O que isso tem a ver comigo? Até que ponto isso é tão folclore ou lenda quanto Papai Noel? Depois de continuar pedalando forte até as minhas pernas entrarem em simbiose com as rodas daquela bicicleta, ao longo caminho, cheguei a uma conclusão: a única coisa que pode fazer um Natal diferente de todos os outros está dentro de cada um de nós.
Deus enviou seu Filho ao mundo para dar a sua vida como resgate pela nossa, e assim nos livrar da consequência maior dos nossos pecados: a separação dele, não só aqui, mas por toda a eternidade. Isso faz de Jesus o maior presente que a raça humana já recebeu. Este é um fato histórico consumado. Entretanto, o ato só se torna realidade na vida de quem recebe o presente de coração. Jesus está mais vivo do que nunca e diz: Se alguém me amar, obedecerá a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada. Uau! Isso é novo! Pelo menos para mim”, pensei com meus botões.
Essa dupla dinâmica juntando-se ao Espírito Santo para fazer morada no nosso ser e a vida de Cristo na alma humana. Uma simbiose perfeita e contínua entre o Deus eterno e o homem mortal. É a vida abundante que Cristo promete. E a grande utopia para a maioria dos cristãos, incluindo-me nesse grupo até aquele momento! Essa foi a grande descoberta dos últimos anos. Como pude demorar mais de cinquenta anos para descobrir um tesouro desses?
Por que não funciona para todos? Por causa da falta de dois “ses”: se amarmos a Cristo e se o obedecermos. Amor Não temos em nós mesmos a capacidade de amar a Cristo com a mesma intensidade que ele nos ama. Para começo de conversa, o máximo que conseguiremos é refletir o amor dele para conosco. E para isso, temos de adquirir conhecimento sobre ele, conhecê-lo pessoalmente, crer incondicionalmente, reconhecê-lo em todos os nossos caminhos e nos valer dos recursos que estudamos no capítulo anterior.
Obediência Para chegarmos ao ponto de obedecer-lhe, temos de permitir que ele mude o chip do nosso computador, substituindo nossa natureza rebelde pela submissão à sua vontade que nos capacita a cumprir os seus mandamentos. Como ele não viola o nosso livre-arbítrio, cabe a cada um de nós a opção de escolher obedecer-lhe, deixando que ele pilote nossa vida.
Simbiose – Segundo o dicionário quer dizer: duas vidas de espécies diferentes vivendo juntas, interagindo e convivendo com benefícios mútuos. Quando um homem e uma mulher se unem, eles passam a ser uma só carne experimentando uma simbiose emocional e biológica de dois seres da mesma espécie, capaz de gerar outras vidas.
A grande simbiose universal acontece entre seres de espécies diferentes e seres da mesma espécie, ao mesmo tempo. Diferentes, porque Deus é o Criador e nós suas criaturas. Iguais, porque fomos criados à imagem e semelhança dele-sua majestade, o ser humano, tão grande e, ao mesmo tempo, tão pequeno!
Pequeno, quando se julga grande a ponto de não precisar do Criador. Grande, quando se vê tão pequeno, que conclui que sem Deus não há ninguém. E, ainda nulo, quando vive alheio ao Criador, perdido na mediocridade e suas próprias limitações, correndo atrás da ansiosa solicitude da vida, hipnotizado e cego pelo brilho deste mundo, mesmo sabendo instintivamente que Deus existe e quer estar com ele.
Por onde começar essa simbiose? Primeiro, na criação do mundo, quando fomos criados limpos e puros para nos relacionar com Deus em um nível de intimidade tão alto que não dá nem para imaginar como era. Depois, na cruz, onde Deus não mediu esforços ao ir de encontro à criatura rebelde que lhe virou as costas e partiu para a carreira solo. E culminará na eternidade, onde seremos um com o Criador para sempre. A incessante busca de Deus pelo homem perdido continua rolando até hoje.
Quando Jesus prometeu que ele, o Pai e o Espírito Santo viriam fazer morada em nós, ele não disse que entraria à força nem pela porta dos fundos. Mas pela porta da frente, mediante uma escolha voluntária de nossa parte. Se lhe abrirmos a porta, vamos dar de cara com ele. Olhos nos olhos, podemos escolher: “Entre, Mestre, sinta-se à vontade em minha casa”. Ou bang! Fechar-lhe a porta na cara.
Segundo o que ele garante em sua Palavra, todo ser humano tem o potencial de tornar-se uma unidade habitacional da trindade divina na face da terra. Desde que lhe abra a porta do coração. Mesmo assim, é possível que duas vidas convivam debaixo do mesmo teto numa relação de inquilino e locador. Isto, porém, não é simbiose. É “toma lá, dá cá”, ou compra e venda. E nós nunca teremos moeda de troca para negociar com o Criador do Universo, pelo simples fato de ele não precisar de nada da gente, pois já é o dono do mundo e de tudo o que nele existe.
O mais triste é que a maioria dos cristãos já abriu a porta do seu coração mas ainda mantém Cristo na condição de inquilino. aluguel na forma de bênçãos, milagres e prosperidade material, esquecendo-se de algo muito maior: o conselho do SENHOR é para os que o temem, e ele lhes dá a conhecer a sua aliança.? Aliança significa pacto, compromisso de Deus para conosco e de nós para com ele. Simbiose é deixar de ser “eu” para sermos “nós”: Deus e eu, por meio de Jesus e pela ação do Espírito Santo. Simbiose é viver a realidade que Paulo descreve: “não sou mais eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim.”