A questão Palestino-Israelense e a Missão

Como seguidores do Cristo que veio restaurar todas as coisas, como devemos olhar para essa guerra?

Quando tratamos sobre os conflitos entre Israel e a Palestina, a complexidade da matéria nos exige muita diligência. As raízes históricas são profundas, mas, infelizmente, as discussões partem da superfície. Perspectivas teológicas também influenciarão em como leremos os fatos. A geopolítica ao redor do conflito é infindável. E para além da teoria, pessoas estão morrendo e vidas são arruinadas há décadas.

Diante dos eventos em curso, muitas narrativas e certezas são vaticinadas por vozes de diversos nichos: especialistas das Ciências Humanas, teólogos, líderes religiosos, personalidades políticas, chefes de estado, etc. Entre tantas certezas, a dúvida prevalece. Ao menos para aqueles que não se contentam com a primeira história contada, afinal, as versões muitas vezes são diametralmente opostas.

Seja diante desse momento histórico de acirrado combate ou analisando a questão em um recorte mais amplo, como cristãos, não podemos nos esquecer da agenda de Deus para essas duas nações. A principal parte do plano do Senhor para Israel e Palestina não está oculta em um livro selado, mas revelado nas páginas do Novo Testamento. Porque como “Deus amou o mundo” (Jo 3:16), temos a certeza de que Ele ama esses dois povos e está em movimento para salvar um povo para si entre essas duas etnias que herdarão a mesma pátria celestial. A Missão de Deus não exclui nenhuma das duas nações. Esse é o propósito deste texto: trazer à luz o que está nas Escrituras para olharmos o tema missionalmente. Como seguidores do Cristo que veio restaurar todas as coisas, como devemos olhar para essa guerra?

  1. Deus ama israelenses e palestinos, judeus e muçulmanos, os cristãos de origem árabe-palestina ou israelenses, os seculares ou ortodoxos de Israel e os religiosos ou nominais da Palestina. Sim, nesses dois territórios não existem somente muçulmanos radicais e judeus piedosos, o espectro é muito mais amplo. Há cidadãos israelenses que são árabes muçulmanos. Existem palestinos cristãos. Tel Aviv é mundialmente conhecida como uma das capitais gays do mundo. Deus ama todas essas pessoas, por isso, não devemos ser demasiadamente rápidos em tomar um lado e desejar o inferno ao outro. “Deus não tem prazer na morte do ímpio” (Ex 33:11), seja qual for sua nacionalidade. A igreja foi enviada a palestinos e israelenses para proclamar o Evangelho de salvação a todos, pois é do desejo de Deus “que todas as pessoas sejam salvas” (I Tm 2:4). Isso implica que temos o dever de orar pelos dois lados e de sermos embaixadores da paz para os dois lados.
  2. Não existe um lado completamente certo, até porque “todos pecaram” (Rm 3:23). A vida é muito mais simples quando interpretamos os fenômenos da existência em duas cores: preto e branco, certo e errado, santo e profano, bom e mau. Entendendo ser este um conflito histórico com diversos personagens, podemos rapidamente perceber que há erros em ambos os lados e perspectivas corretas também. Olhando para a Escritura aprendemos que somente Deus é plenamente perfeito e os seres humanos cometem erros e atrocidades. Tomar um lado como totalmente inocente e demonizar o outro parece simplista e não é compatível com uma antropologia bíblica.
  3. A igreja não pode se esquecer de sua função. Somos “sal e luz para esse mundo” (Mt 5:13-16) e não somente para um povo. Nossa função, sobretudo nesse momento de tensão, antes de procurar os culpados, condenar um lado e proteger o outro, é lembrar aos envolvidos e aos espectadores a única resposta efetiva para todas as contendas: Jesus. O Mundo está condenando os responsáveis; que o faça, pois isso é necessário. No entanto, nós deveríamos seguir nossa agenda missional e oferecer o Evangelho que traz verdadeira paz, seja para as vítimas ou seja para os culpados. Deveríamos estar menos preocupados com o melhor posicionamento público e perdendo menos tempo expressando nossas certezas. Deveríamos estar orando por essa questão, porque a “oração do justo vale muito em seus efeitos.” (Tg 5:16).

Por fim, estamos certos de que existem culpados e vítimas, e que a justiça precisa ser feita, mas não estamos convictos que em poucas horas vendo a pequena ponta do iceberg deveríamos ter tantas certezas, sobretudo, certezas que excluem da graça e da misericórdia de Deus outros seres humanos. O papel da Igreja é acompanhar a Missão de Deus neste mundo e nesse conflito: orar por ambos, orar pela paz, ajudar na reconciliação desses povos, ministrar a mensagem de amor, perdão e exercer ministérios de misericórdia. Somos chamados pelo Princípe da Paz a sermos pacificadores (Mt 5:9).

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