Pelo conflito Israel e Palestina, ore assim!

Por Yohanna Katanacho

Há pastores orando para que Deus aniquile todos os inimigos de Israel. Outros aproveitam a oportunidade para afirmar que os muçulmanos “adoram demônios”. No entanto, cremos que as palavras do Rev. Yohanna Katanacho (um evangélico árabe-palestino-israelense e deão acadêmico da Faculdade Evangélica de Nazaré, Israel), refletem melhor o que a Bíblia nos ensina sobre como devemos nos posicionar e orar em momentos como os que estamos vivendo.

 

Tenho escrito até agora dois ensaios que podem nos ajudar a orar pela guerra atual em Gaza. Mas sinto que precisamos fornecer algumas reflexões teológicas para nossas orações. Em outras palavras, o propósito deste ensaio não é fornecer uma avaliação política da recente guerra contra Gaza. Em vez disso, busco fornecer alguns princípios bíblicos que têm o potencial de nos ajudar a pensar, orar e agir de maneiras biblicamente compatíveis. Os princípios bíblicos devem ser entendidos em seu contexto e podem refletir múltiplas respostas dependendo da situação. No entanto, a um custo de simplificação excessiva, espero destacar alguns princípios para que possam nos orientar na maioria das circunstâncias. Esses princípios são escritos a partir de uma perspectiva cristã e são moldados pelo meu próprio contexto palestino contemporâneo.

  1. É errado privar seu inimigo de alimentos básicos, medicamentos e água. A Bíblia diz: Se o seu inimigo estiver com fome, dê-lhe comida para comer; se ele estiver com sede, dê-lhe água para beber (Provérbios 25:21). Paulo cita o mesmo versículo em Romanos 12:20 em um contexto em que a palavra inimigo parece incluir inimigos sociais, religiosos e políticos (Romanos 13). O profeta Eliseu levou o exército de seus inimigos a uma armadilha. Eles se tornaram cativos em Samaria. Ele então protegeu suas vidas e lhes deu pão e água (2 Reis 6:22). Então ore assim: Ó Senhor! Ajude-nos a proteger as vidas de nossos inimigos e a mostrá-los compaixão fornecendo suas necessidades básicas de alimentos, medicamentos e água.
  2. Corrobora-se com o mal ao matar pessoas inocentes. Por pessoas inocentes entenda-se: crianças e todas as pessoas que não são culpadas do ato mal, como por exemplo os cidadãos israelenses inocentes, bem como a maioria dos habitantes de Gaza. Provérbios 6:17 declara que Deus abomina o derramamento de sangue inocente. Isaías afirma que aqueles que derramam sangue inocente e são marcados por atos de violência não conhecem o caminho da paz e não há justiça em seus caminhos (Isaías 59:1-8). O profeta Jeremias lembra ao povo que oprimir viúvas, órfãos, estrangeiros e derramar o sangue dos inocentes é a marca da falsa religião. Então ore assim: Senhor! Em nossa raiva humana, derramamos o sangue de nossos irmãos e irmãs! Mude nossos corações e ajude-nos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para promover a vida, não a morte.
  3. Não se alegre quando seu inimigo cair e não deixe seu coração se alegrar quando ele tropeçar (Provérbios 24:17). A Bíblia nos chama a agir com compaixão em vez de nos alegrarmos com a desgraça do inimigo. É realmente triste que alguns usem fogos de artifício ou dancem quando veem a desgraça de seus inimigos. Então ore assim: Nosso Pai celestial, capacite-nos a não julgar os outros enquanto nossos corações estão encharcados de egoísmo. Cure nossos olhos para que possamos ver o sofrimento desnecessário de nossos inimigos! Cure nossos ouvidos para que possamos ouvir o clamor por misericórdia.
  4. Muitas pessoas querem afirmar a necessidade de justiça. Na minha opinião, reduzir a justiça bíblica à justiça política ou social nos priva de considerar o quadro bíblico mais completo. Parece que um adjetivo melhor seria justiça missional. A justiça missional não é egocêntrica. Ela emprega o mecanismo da justiça para construir um futuro que honra a Deus e proporciona dignidade para todos os seres humanos. Ela cura a terra da maldade. Jesus Cristo é a melhor encarnação da justiça missional. Infelizmente, em guerras somos tentados a limitar a justiça para um lado, mas a justiça missional busca o melhor interesse dos oprimidos e dos opressores. Podemos ver a justiça missional em ação em Lucas 4. A Bíblia diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos”. Depois desses versículos poderosos, Jesus expande o conceito de justiça missional por meio de dois exemplos: uma mulher e um homem. Ambos fazem parte de nações que estão em inimizade com Israel bíblico. Mas eles não são os inimigos de Deus. Pelo contrário, eles são os destinatários da graça de Deus. Então ore assim: Nosso Pai celestial, faça de mim um agente de justiça missional para que eu possa espalhar seu Reino, não o meu!
  5. A Bíblia nos chama a ser sábios. A sabedoria reflete sobre o passado. Palestinos e judeus têm se matado há décadas. O ciclo de violência não terminará com mais violência. Líderes sábios devem considerar uma solução de longo prazo que ponha fim à injustiça contra o povo palestino. Paz sem justiça é uma ilusão. Mas a justiça deve ser mais do que justiça política. Deve ser missional. O futuro tanto dos palestinos quanto dos judeus é unido por uma terra só. Então ore assim: Nosso Pai celestial, conceda-nos a sabedoria da paz, não da guerra; a sabedoria da misericórdia, não da crueldade; a sabedoria do amor, não do ódio; a sabedoria da vida, não da morte; precisamos da sabedoria do alto e não do inferno.
  6. A política do ódio deve acabar. A política do ódio é marcada por estereótipos, violência, arrogância, vingança, egoísmo e medo. A política do ódio precisa ser substituída pela política do amor. Uma mudança de paradigma político precisa acontecer para acabar com as guerras na Palestina/Israel. A política do amor deve afetar nossa visão, nosso sistema educacional, nossa mídia e nossos sonhos. O sonho judeu não deve ser o pesadelo dos palestinos e vice-versa.
  7. Cristãos não devem apenas orar à luz dos pontos anteriores, mas também ser pacificadores, não guerreiros. Devemos exemplificar a política do amor criando um país em que palestinos e judeus possam viver como cidadãos iguais com dignidade. A política do amor e da justiça missional buscam honrar Jesus Cristo de todas as maneiras possíveis. Não devemos nos alegrar quando as pessoas morrem e vão para o inferno, mas ajudar não apenas a preservar vidas, mas também a mostrar às pessoas como realmente viver. O perdão, a reconciliação, a justiça missional, o amor, a paz e a dignidade são todas marcas de uma vida melhor.

Espero que os pontos anteriores possam nos ajudar a orar e agir como pacificadores neste conflito Israel/Palestina. Que evitemos todas as formas de violência pecaminosa. Que Deus abençoe o povo judeu e o povo palestino. Que Jesus Cristo seja honrado em ambas as nações.

Yohanna Katanacho

FONTE: http://www.comeandsee.com/view.php?sid=1424&fbclid=IwAR3UifhYwTs8lvYfzZaFp3FWx6pjMKMDmNsQn1oRK76WbzapL5NwAFkAYDM

 

Yohanna Katanacho é atualmente reitor acadêmico do Nazareth Evangelical College. Ele é ministro ordenado da Aliança Cristã Missionária, bolsista Billy Graham, bolsista Langham/John Stott e bolsista do ano 2020 da Scholar Leaders International. Ele é israelense cristão palestino que estudou na Bethlehem University (B.Sc.), Wheaton College (M.A.) e Trinity Evangelical Divinity School (M. Div.; Ph.D.). Ministrou cursos de teologia palestina na Palestina, Israel, Egito, Ucrânia e outros lugares. Ele é o autor de A Terra de Cristo: Um Clamor Palestino (2013), Orando através dos Salmos (2018) e Lendo o Evangelho de João através dos Olhos Palestinos (2020).

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