Natal na Romênia

por Jorge Carvalho

Nossa família chegou à Romênia há treze anos atrás. Na época nossos dois filhos tinham quatro e cinco anos. Grandes foram os nossos desafios: língua, cultura, clima, para citar alguns. A vida em uma outra cultura envolve um  nível de adaptação que só nos damos conta quando vivemos o processo. Por exemplo,  tivemos um dilema no nosso primeiro Natal. Afinal, como comemorar esta data estando sozinhos no campo, longe dos familiares, dos amigos, da igreja? Graças a Deus, desde o início fomos estimulados a ter mentores, irmãos que tem experiência de vida transcultural e que poderiam nos ajudar a processar nossas lutas. Nossos mentores, Laurie e Bill Keyes, que tem nos acompanhado desde o início, nos deu uma ideia interessante: “Este é o momento de vocês criarem vossas próprias tradições como família”. Decidimos então fazer uma festa para comemorar o aniversário de Jesus. Nunca vamos esquecer daquele Natal. Foi o mais especial que já tivemos! Embora estivéssemos longe de nossos familiares e das tradições da nossa pátria, pudemos resgatar em família o verdadeiro sentido desta celebração: que é Jesus, só Jesus.

A partir do segundo ano, já conhecendo a língua, reunimos amigos para celebrar e fomos cada vez mais expostos a maneira como os romenos o comemoram. Devido a ser um país com estações do ano bem definidas e estar no hemisfério norte, o Natal na Romênia é como nos filmes que víamos quando crianças: com neve. Diferente do Brasil, onde, em geral, a ceia é servida na véspera, aqui, as famílias se reunem no dia 25 para o almoço. O prato principal é a carne de porco, mas não pode faltar o sarmale (charutinho de repolho que é o prato mais tradicional da culinária romena). A Romênia é um país que, graças a Deus, ainda é muito centrado na família. Assim, o Natal é uma ótima oportunidade para as gerações se reunirem ao redor da mesa.

Porém, assim como em muitos outros lugares do mundo, o Natal na Romênia também é influenciado pelo aspecto comercial. A figura do Mos Craciun (Velhinho do Natal – como eles chamam o Papai Noel) está em toda parte. Apesar do décimo terceiro salário não ser padrão por aqui, é comum as pessoas se endividarem nesta época do ano para que não faltem os presentes.

Um destaque interessante é que a árvore de Natal é, em geral, um pinheiro de verdade, que a partir do dia 01 de dezembro (dia nacional da Romênia) já começa a ser vendido nas esquinas das nossas cidades. Como a oferta de pinheiros é grande, as famílias preferem ter um pinheiro natural pois dizem que o cheiro que ele exala é um diferencial nas tradições natalinas.

Outra característica são as feirinhas de Natal, muito comuns em todas as partes da Europa. Um conjunto de cabaninhas de madeira, geralmente dispostas em círculo, onde se vende de tudo um pouco, desde enfeites e biscoitos natalinos até o indispensável vinho fervido. O vinho em temperatura elevada faz o álcool evaporar e, servido com rodelas de laranja e canela, torna-se uma excelente opção para quem deseja se aquecer no rigoroso inverno romeno.

Outra forte tradição por aqui são as músicas natalinas ou como dizemos “colinde de craciun”. Em todo lugar do mundo existem músicas de Natal, mas em nenhum outro estas canções são tão bonitas como na Romênia. A tradição envolve grupos que saem pelas ruas cantando de porta em porta. O costume é servir os cantores com biscoitos, suco, chocolate e cozonac (uma espécie de panetone tradicional daqui). É de bom tom também oferecer um presente em dinheiro para aqueles que cantam. A maioria das igrejas aproveita esta oportunidade para evangelizar através da música, contando e cantando o verdadeiro sentido do Natal na vizinhança. Nós já fizemos isso várias vezes e é sempre uma excelente oportunidade de entrar na casa das pessoas com a mensagem do Evangelho.

Mas para terminar, acho importante mencionar que aqui, apesar de o Natal ser celebrado de forma tão linda e rica, a Páscoa é mais forte do que o Natal. O motivo? Descobri logo no primeiro ano, quando, em processo de adaptação, resolvi perguntar a um taxista. A resposta dele foi simples e surpreendente: “É simples: todo mundo nasceu, mas só um ressuscitou!”

Jorge Carvalho – Missionário da SEPAL na Romênia

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