Lausanne 50 anos
Por Lourenço Stelio Rega publicado na Revista Comunhão
A história de Lausanne já tem sido bem divulgada, inclusive o contexto global da época em que tivemos o 1º Congresso, em 1974, na cidade de Lausanne, Suíça, cujo toque mais enfático, na época, ficou marcado pela necessidade da compreensão da integralidade do Evangelho na famosa frase: “o Evangelho todo para toda pessoa e a pessoa toda”.
Outros temas recorrentes surgiram e a ideia da Missão Integral da igreja se torna um marcador importante, bem como a necessidade de alimentarmos a responsabilidade social além da evangelização, discussão que vinha no bojo do contexto em que se defendia o Evangelho social no mundo teológico de então.
A história é longa e o espaço não permite trazer, por exemplo, a tensão de teólogos latino-americanos com a Teologia da Libertação, que tinha certos coloridos de hermenêutica marxista e que, com Lausanne, vinha uma janela bíblica de esperança em tratar da opressão que o povo sofria no continente com governos militares.
No Brasil o tema da Missão Integral ingressa e, em certos círculos, vai tomando colorido mais sócio-político-econômico, a ponto de hoje haver aqui a dificuldade do uso da expressão “Missão Integral” com o risco de se ser chamado de liberal ou algo assim.
Outras edições do congresso ocorreram. A segunda foi em 1989, em Manila, Filipinas; a terceira, em 2010, na Cidade do Cabo, África do Sul. Esses congressos buscaram consolidar os princípios estabelecidos no 1º Congresso e compreender a missão da igreja diante das novas realidades do mundo.
Lausanne está completando 50 anos em 2024 e o 4º Congresso foi realizado entre os dias 22 e 28 de setembro, na cidade de Incheon, na Coreia do Sul, com o tema “Que a igreja anuncie e demonstre Cristo, unida!”, reunindo cerca de 5.000 cristãos de mais de 200 países. Entre os preletores tivemos dois brasileiros: Sarah Breuel (Sepal) e Ronaldo Lidório.
Diversas análises já estão sendo publicadas. Diante disso, prefiro destacar minha visão sobre o papel que o Brasil poderia ter tido nesse congresso, à luz do seu cenário religioso difuso, poroso, bem divido e incerto. Mas também à luz da situação política e da insegurança a respeito das liberdades individuais. Frente a esse cenário fico imaginando se hoje já não poderíamos ser contados como um país ingressando no estado de perseguição, em que os riscos para a sobriedade cristã já se avistam no horizonte.
Me lembro que, desde novembro de 2022, em contato com a coordenação de Lausanne-Brasil, expressei minhas preocupações com nosso cenário e sugeri a realização, aqui no Brasil, de encontros preparatórios durante 2023 para a prospecção desse quadro de forma que pudesse ser veiculada pelos canais competentes para que recebesse algum destaque na Coreia.
A realização desses pré-encontros poderia em muito contribuir para o alinhamento entre líderes que já vivem Lausanne desde a sua primeira edição, bem como dos principais líderes denominacionais, abrindo caminho para novos encontros após a Coreia. Cheguei a elaborar um rascunho com diversos itens para início de discussão e o entreguei para a coordenação de Lausanne-Brasil, mas infelizmente não fui ouvido.
Será que poderemos ter alguma esperança de que esse cenário que vivemos possa ser integrado em uma das preocupações do 4º Encontro de Líderes Jovens de Lausanne, que está previsto para ser realizado em 2026 aqui em nosso país?
Lausanne é mais do que um Congresso, é resultado de inúmeras buscas em tornar as Boas Novas mais reais ao mundo todo não apenas em termos de proclamação, mas também de marcante presença dos cristãos como tradução do reino de Deus no mundo e assim foi se construindo a visão de Lausanne ser um MOVIMENTO, um legado, em que as novas gerações poderão ter importantes inputs para SABER viver nos novos e complexos cenários que estão surgindo.