Globalização, urbanização e migração: repensando o conceito de ‘Grupos Culturais Homogêneos’ – Texto 3

Há 272 milhões de pessoas vivendo fora de seu país de origem

Minh Ha Nguyen

O conceito de ‘Grupos Culturais Homogêneos’ teve (e ainda tem) tremendo impacto nos cristãos que, de alguma forma, estão (ou estiveram) envolvidos no trabalho missionário.

Considerando que essa abordagem começou a se espalhar pelo mundo há mais de quarenta anos, é natural nos perguntarmos se ela ainda é relevante hoje.

Por isso, o Martureo traz uma série de 4 artigos sobre o tema.

  1. ‘Grupos Culturais Homogêneos’: realidade ou ilusão?, de Marcos Amado.
  2. Reimaginando e repensando ‘Grupos Culturais Homogêneos’, de Len Bartlotti.

A seguir, está o terceiro texto.

 

A pilha de sapatos, a maior parte sandálias, cresce na porta da frente. Aromas intensos de cúrcuma, cominho e curry emanam do apartamento. Lentamente, as pessoas se aglomeram no círculo no chão! Primeiro seis, depois dez, depois quinze. Uma senhora ajusta o lenço esvoaçante que usa sobre a longa túnica, vestimenta típica sul asiática. Crianças pequenas com pulseiras penduradas em seus pulsos transitam alegremente entre pessoas dispostas a entretê-las com canetas e telefones celulares. É hora da igreja. Mas esse não é o sul da Ásia! É Richmond, Virginia.

Três megatendências que estão impactando a missão cristã

A globalização, o crescimento das cidades e a movimentação de pessoas ao redor do mundo são processos inter-relacionados que transformaram profundamente a paisagem social, econômica, cultural e política contemporânea, bem como a maneira como a missão cristã entende ‘Grupos Culturais Homogêneos’ e realiza a sua tarefa entre todos os povos e em todos os lugares. Mais de um bilhão de pessoas estão se mudando para outros lugares, e a estimativas apontam que entre 85% e 95% delas acabam se estabelecendo nas cidades.[1] Isso significa que uma em cada sete pessoas no planeta é migrante, e o fenômeno simultaneamente beneficia e exacerba cidades e sociedades em todo o mundo. No entanto, muito pouca pesquisa foi feita para se avaliar o impacto dessas megatendências no conceito de ‘Grupos Culturais Homogêneos’. Este artigo, portanto, procura mostrar como a globalização, a urbanização e a migração (doravante GUM) ampliam a compreensão dos povos e de ‘Grupos Culturais Homogêneos’ e impactam a missão cristã e a missiologia transcultural. Megatendências como a GUM não são problemas isolados. Entrelaçar esses processos em um único segmento é uma tarefa desafiadora, para dizer o mínimo! Este artigo, portanto, focará apenas alguns aspectos da GUM que estão diretamente relacionados ao nosso entendimento de ‘Grupos Culturais Homogêneos’. Em contextos urbanos densos e diversos, a essência das dinâmicas de ‘Grupos Culturais Homogêneos’ tem sido cada vez mais desafiada por sociedades pós-modernas, multiculturais e complexas. Isso inclui os conceitos de homogeneidade (onde as pessoas compartilham características comuns que as separam de outros grupos), consolidação etnolínguística (onde a língua e a etnia são as características determinantes dos ‘Grupos Culturais Homogêneos’), e delimitação intercultural (onde espessas fronteiras são enfatizadas entre esses grupos de pessoas). As migrações de pessoas em todo o mundo para as cidades exigem que a missão cristã busque novas estruturas epistemológicas para ver, compreender e fazer discípulos entre todos os povos e em todos os lugares.

Pessoas em mudanças

A migração e a urbanização cresceram a tal ponto que se tornou clichê mencionar que mais da metade (55%) da população mundial agora vive em cidades. Mais de 2,5 bilhões de pessoas se juntarão às suas fileiras até 2050, aumentando a população urbana mundial para mais de dois terços (68%).[2] Vale lembrar que em 1950, quando os conceitos de grupos de pessoas e o princípio da unidade homogênea estavam sendo formados, a população urbana era de menos de um terço (30%). Há 272 milhões de pessoas vivendo fora de seu país de origem, representando cerca de 3% da população mundial.[3] Algumas pesquisas Gallup mostram que esses números poderiam ser maiores, já que mais de 750 milhões de pessoas em todo o mundo migrariam internacionalmente se pudessem.[4] A migração global inclui também uma estimativa de 800 milhões de migrantes internos se deslocando das áreas rurais para as cidades. Índia e China respondem pela maior parcela da migração interna, com 325 milhões e 221 milhões de migrantes, respectivamente. É importante ressaltar que os dados mostram que as migrações internacionais e internas estão conectadas: a migração interna leva à migração internacional e vice-versa.[5] Em conjunto, há mais de 1 bilhão de migrantes no mundo hoje.

Globalizando culturas

A globalização se refere à “ampliação, aprofundamento e interconexão mundial de todos os aspectos da vida social contemporânea”.[6] A globalização também é, simultaneamente, um processo político e tecnológico.[7] Embora existam tendências antiglobalização como nacionalismo e rejeição da democracia liberal ocidental, a globalização tecnológica possibilitou ampla comunicação, viagens e acesso à educação ao redor do mundo. O crescimento das “redes transnacionais” expôs as limitações do controle estatal. Remessas, relacionamentos, inovação e entretenimento fluem pela internet e pela televisão a cabo através de fronteiras permeáveis. Esse processo tecnológico levou ao surgimento de novos grupos culturais que ultrapassam as fronteiras étnicas, linguísticas e geográficas tradicionais. Quatro exemplos de grupos culturais globais merecem ser mencionados. O primeiro é o “cultura de Davos”, um grupo de elite de 40 milhões de pessoas altamente educadas que operam nos domínios rarefeitos das finanças internacionais, mídia e diplomacia, compartilhando crenças comuns sobre individualismo, democracia e economia de mercado, que seguem um estilo de vida instantaneamente identificável ​​em qualquer lugar do mundo e que se sentem mais confortáveis ​​na presença um do outro do que entre seus compatriotas menos sofisticados.[8] Em segundo lugar está o internacional “clube de professores”, uma rede internacional de acadêmicos que compartilha valores, atitudes e objetos de pesquisa comuns e que exerce uma enorme influência por meio de sua associação com instituições educacionais em todo o mundo, com certo sucesso na promoção do feminismo, ambientalismo e direitos humanos como questões globais.[9] Em terceiro lugar estão as organizações não governamentais que defendem uma visão da cultura global baseada não na “replicação da uniformidade”, mas na “organização da diversidade”, buscando preservar as tradições culturais no mundo em desenvolvimento.[10] Um exemplo final são os trabalhadores transnacionais, profissionais que falam inglês, como engenheiros de software e empresários da internet do Vale do Silício, Califórnia, que traçam suas origens no sul da Ásia, mas que vivem e trabalham em outros lugares e cujo mundo social inclui possuir várias bases domésticas (casas) e uma rede exclusiva de indivíduos e oportunidades.[11] Esses exemplos mostram que, embora a globalização tenha procurado homogeneizar o mundo em uma única ordem e cultura, ela paradoxalmente levou à criação de uma infinidade de outras subculturas, redes e tribos altamente influentes que segregam com base em aspectos sociais e econômicos e fronteiras culturais. Algumas delas priorizam a educação ou estilo de vida acima das identidades étnicas e linguísticas; seus membros optam por se associar a outras pessoas com ideias semelhantes, com as quais nem mesmo compartilham a mesma língua materna ou herança cultural. Eles se reúnem para formar diversas redes, muitas vezes sob a guarda de uma língua dominante, como o inglês, e de uma cultura dominante, como a cultura ocidental. Outros se transformam em grupos multilíngues e híbridos que se esforçam para manter múltiplas identidades em um modo de vida “intermediário”; eles são mais do que a cultura que deixaram para trás, mas não totalmente assimilados à cultura de destino. Uma coisa que fica evidente é que os processos de GUM abrem as portas para novas formas de formação de comunidades, redes e grupos de afinidade. Isso não significa que os grupos etnolinguísticos de pessoas não sejam mais relevantes. Isso significa que as pessoas têm mais opções para se unirem. Isso também significa que há mais pontes e laços de longo alcance para a pregação do evangelho do reino.

Cidades e pessoas

O efeito transformador da GUM nas pessoas é intensificado nas cidades. O influente designer urbano dinamarquês Jan Gehl declara: “Primeiro nós moldamos as cidades –depois elas nos moldam”.[12] Enquanto as áreas rurais tendem a produzir um efeito conservador na cultura, nas cidades os processos de GUM mudam radicalmente quem as pessoas são e como elas se veem.[13] De acordo com Edward Glaeser, professor de economia e estudos urbanos de Harvard, não podemos entender a demanda por cidades a menos que entendamos como as cidades mudam a vida das pessoas.[14] Portanto, é importante entender como os processos de GUM estão ocorrendo e avaliar o efeito transformador das cidades nas pessoas e em ‘Grupos Culturais Homogêneos’. Há cem anos, Émile Durkheim, o pai da sociologia moderna, desenvolveu o conceito de “fatos sociais” com o objetivo de estudar cientificamente o impacto da sociedade sobre os indivíduos. Para tanto, levou em conta um grupo que vive em uma determinada localização geográfica. Durkheim postulou que os fatos sociais são elementos da vida coletiva que existem de forma independente e que exercem influência sobre o indivíduo. Eles são coletivos, estáveis, externos aos indivíduos e coercitivos para eles. São características externas e não individuais – os indivíduos não podem escolher se têm o efeito ou não. Os fatos sociais são coercitivos: afetam todos os que residem nesse contexto. Eles são coletivos, o que significa que se aplicam a todos. São coisas, isto é, podem ser medidos com dados empíricos. Uma das principais descobertas de Durkheim foi a diferença positiva da taxa de suicídio entre protestantes e católicos, bem como entre soldados e civis.[15]

O efeito de “desencanto” da modernidade de Max Weber na sociedade é outro exemplo de fato social.[16] Se Durkheim e Weber estiverem corretos, é na cidade que a dinâmica da GUM é mais perceptível, e nela evidencia-se o impacto na compreensão de ‘Grupo Cultural Homogêneo’. As pessoas preferem o contato com outras pessoas do mesmo grupo, mas também preferem o contato com outras pessoas de grupos diferentes a não terem nenhum contato.[17] Os fatos sociais influenciam as pessoas na cidade, expondo-as a diversas culturas e modos de vida, mostrando fraqueza em sua visão de mundo e lhes apontando a força dos outros. A densidade populacional da cidade fornece a massa crítica necessária para que as pessoas se reúnam e tenham liberdade para assim fazê-lo.

Fatos sociais da vida urbana

Existem pelo menos quatro exemplos que ilustram como os processos de GUM são intensificados em contextos urbanos, levando à formação de novos grupos e mudando a maneira como vemos e discipulamos as pessoas no mundo de hoje. O primeiro é a formação de “tribos urbanas” – comunidades emocionais ou afetivas definidas por interesses e estilos de vida compartilhados. Assim como nas tribos da Amazônia, essas tribos urbanas se unem nas selvas de concreto das megacidades contemporâneas para definir o significado da vida e compartilhá-la.[18] Os exemplos incluem microgrupos de punks, motociclistas, descolados e pessoas com outros tipos de orientação sexual.[19] Eles normalmente estão entre as idades de 25 e 45 anos, e dão preferência ao estilo de vida urbano que oferece uma alternativa às estruturas familiares tradicionais.[20] Há uma versão cristã das tribos urbanas, também chamada de “Benedict Option” [“Opção Bendita”), onde atarefados profissionais jovens urbanos se reúnem para criar uma comunidade de forma monástica.[21]

Um segundo exemplo de formação de grupo em contextos urbanos são as “tribos globais”. Enquanto as tribos urbanas enfatizam as características afetivas, as tribos globais se concentram na preservação econômica, cultural e étnica. Em seu livro Tribos: Como Raça, Religião e Identidade Determinam o Sucesso na Nova Economia Global, o mundialmente renomado urbanista Joel Kotkin menciona cinco exemplos de tribos globais: chineses, japoneses, britânicos, indianos e judeus. Esses grupos têm em comum processos diaspóricos que contribuíram significativamente para a formação e o crescimento de cidades globais como Londres, Nova York, Cingapura e Hong Kong.[22]

Um terceiro exemplo de dinâmica de grupo urbano é a hibridização, também conhecida como crioulização, fenômeno em que línguas e culturas se chocam para dar origem a outras novas. As culturas não são ilhas homogêneas, muitas vezes elas são caracterizadas por múltiplas identidades que se sobrepõem umas às outras.[23] Isso é mais acentuado nas cidades, onde as culturas se tornam menos homogêneas e onde as pessoas saltam as fronteiras porosas de uma cultura para outra.[24]

A formação do “etnoburbano” é o exemplo final. Etnobúrbios são aglomerados étnicos suburbanos com áreas residenciais e distritos comerciais em grandes áreas metropolitanas. São comunidades multiétnicas, nas quais um grupo de minoria étnica tem uma concentração significativa, mas não compreende a maioria. Em etnobúrbios, grupos minoritários são capazes de manter sua identidade étnica. São alguns dos lugares mais dinâmicos e diversificados nas cidades. Neles, as conexões e os relacionamentos transnacionais são formados com mais frequência.[25]

GUM são realidades humanas, transformadoras e coercitivas que a igreja global precisa aprender a administrar a fim de alcançar as pessoas no século 21. Em contextos urbanos, etnicidade e línguas ainda desempenham papéis críticos. No entanto, as grandes cidades fornecem às pessoas a liberdade e a massa crítica para formar novos grupos com base em ocupação, afiliação institucional ou características de interesse comum. Além disso, o hibridismo cultural, combinado com a interdependência entre os grupos, leva a novas comunidades multiétnicas e interétnicas. Todos os casos apresentam um sistema complexo de formação de grupos que exige novas formas de ver, compreender e alcançar as pessoas. A missão cristã em contextos urbanos, portanto, necessita de vários modelos de plantação de igrejas, incluindo monoétnico[26], multiétnico[27] e interétnico[28], bem como de outras estratégias que não sigam os limites das fronteiras étnicas ou linguísticas.

Repensando o conceito de ‘Grupos Culturais Homogêneos’

Ao repensar o conceito de ‘Grupos Culturais Homogêneos’ e o impacto da GUM na compreensão dos povos e dos grupos não alcançados, a igreja global deve levar em consideração o fato de que etnias e línguas não são a única maneira pela qual as pessoas se reúnem. Os fluxos globais conectam pessoas com laços múltiplos e de longo alcance em uma rede mundial que pode fornecer novas pontes e caminhos mais curtos para a propagação do evangelho. Além disso, as cidades atraem pessoas em busca de novas oportunidades para melhorar suas vidas; elas incluem membros de muitos grupos de pessoas não engajadas e não alcançadas de lugares restritos. Finalmente, as cidades são alicerces de ideias e inovações. Como os discípulos são feitos nas cidades, eles têm o potencial de se tornarem divulgadores influentes das boas novas em círculos diferentes dos seus.[29] Esses são alguns dos motivos que fazem das cidades campos de missões transculturais. O objetivo central deste artigo foi discutir alguns dos problemas e impactos da GUM na compreensão de ‘Grupos Culturais Homogêneos’, e sugerir uma possível solução para a missão cristã. Os processos de GUM não só criaram novos agrupamentos de pessoas além das fronteiras etnolinguísticas, mas também forneceram novas maneiras para os povos se reunirem em hibridizações e etnobúrbios. Além disso, os processos de GUM destacam o potencial para movimentos evangélicos entre as comunidades globais com vínculos significativos na cidade e ao redor do mundo.

A solução não parece estar em expandir o banco de dados de grupos de pessoas atuais em uma lista cada vez maior de centenas de milhares ou até milhões de imputs. Mas as respostas tampouco serão encontradas abandonando-se as listagens atuais com o fundamento de que elas perderam seu brilho e não são mais atraentes – algumas informações podem estar certas e ser valiosas, ainda que elas não sejam a base para a definição de uma estratégia [missiológica] global.

O caminho sugerido é o desenvolvimento de uma estrutura de pesquisa missiológica que forneça os novos dados e modelos para ver e compreender as pessoas, as cidades e os fluxos migratórios. O Shalom City Index™ (SCI) [Índice Shalom das Cidades] e seus bancos de dados podem fornecer tal estrutura.[30] De um lado, o SCI fornece estrutura teológica e missiológica com base em um sistema adaptativo abrangente, coeso e complexo para a compreensão da pregação do evangelho do reino entre todos os povos e em todos os lugares. De outro lado, o SCI fornece dois novos bancos de dados sobre cidades e diásporas globais que irão complementar o banco de dados de ‘Grupos Culturais Homogêneos’ atual. A estrutura do SCI é a autorreflexão do autor sobre o período de sete anos de plantação de igrejas interétnicas que levou à formação da International Community Church, uma rede de igrejas domésticas em Richmond, Virgínia.

Um exemplo de plantação de igrejas interétnicas

A igreja do sul da Ásia mencionada no início deste artigo é um dos trinta grupos domésticos que formaram a International Community Church (ICC) – uma rede de igrejas domésticas que conecta grupos de afinidades, povos e línguas do Nepal, Birmânia, Camboja, Vietnã, Ásia Central, África, América do Sul e outros lugares. Os grupos domésticos se reúnem semanalmente em vários locais da cidade. Todos eles se reúnem uma vez por mês para a celebração de adoração, comunhão e formação de liderança. Nos lares, os grupos se reúnem semanalmente de acordo com a sua fronteira específica, seja ela afinidade linguística, social ou cultural. Cada grupo decide o idioma utilizado na adoração e evangelismo, bem como estratégias de missão mais eficazes e contextuais para sua comunidade. Nas reuniões mensais de celebração, os grupos se revezam para conduzir o culto, pregar a Palavra e liderar uns aos outros na oração por todos os outros grupos étnicos na cidade que ainda não têm uma igreja. O ICC é uma resposta aos desafios dos modelos de plantação de igrejas tanto monoétnico quanto multiétnico. Por um lado, o modelo monoétnico, ao atingir as pessoas no idioma nativo e na sua visão de mundo, oferece muito pouca interação com outros grupos da cidade. Além disso, o modelo monoétnico encontra dificuldade em reter a segunda ou a terceira geração que não fala a língua de seus pais. Por outro lado, o modelo multiétnico, embora seja eficaz para reunir vários grupos, enfrenta desafios próprios. Em primeiro lugar, a insistência no uso da língua nacional não apenas excluiria a primeira geração de imigrantes, mas também projetaria a expectativa de que para se tornar cristão é preciso aprender a língua e adotar a cultura do país de acolhimento. Em segundo lugar, o domínio do grupo majoritário na liderança e na adoração trataria os grupos minoritários como cidadãos de segunda classe. Finalmente, a ausência na liderança e na adoração de migrantes da primeira geração levaria a alguma forma de “segregação”. Para se unir à igreja multiétnica, cada grupo deve abrir mão de algo para evitar que a igreja se separe. O modelo interétnico é simples, mas eficaz para atender às necessidades tanto monoétnicas quanto multiétnicas. Os grupos domésticos, como a menor unidade da igreja local encontrada nas Escrituras, são fáceis de iniciar e multiplicar com o desenvolvimento de líderes leigos. A ICC é pequena o suficiente para alcançar todas as pessoas em Richmond, mas grande o suficiente para se multiplicar, alcançando as tribos urbanas, grupos subculturais e redes de cidades globais.

 

Sobre o autor

Minh Ha Nguyen (MDiv, ThM) é cofundador e diretor da Radius Global Cities Network, um centro de estudos dedicado a pesquisas sólidas, liderança inovadora e tomada de decisões sobre cidades. Ele trabalha em Pesquisa Global no International Mission Board, onde lidera os esforços de coleta e entrega de dados que incluem o gerenciamento do banco de dados www.peoplegroups.org. Em 2009, ele iniciou os trabalhos da International Community Church, uma rede de igrejas domésticas que alcança grupos de pessoas da Ásia, África e Oriente Médio que vivem em Richmond, Virgínia. Minh Ha é doutorando no Southeastern Seminary, e sua pesquisa é sobre globalização, urbanização, migração e o desenvolvimento do Shalom City Index ™.

 

[1] UN-IOM, World Migration Report (Geneva: UN Migration, 2020), 19.

[2] UN-DESA, World Urbanization Prospect: The 2018 Revisions (New York: United Nations, 2019).

[3] UN-IOM, World Migration Report (Geneva: UN Migration, 2020).

[4] Gallup, “More Than 750 Million Worldwide Would Migrate If They Could”, Gallup Polls (2018). Disponível em: https://news.gallup.com/poll/245255/750-million-worldwide-migrate.aspx, accessado em 18/05/2020.

[5] Ronald Skeldon, “International Migration, Internal Migration, Mobility, and Urbanization: Toward More Integrated Approaches”, em Migration Research Series 53 (2018): 1-10.

[6] D. Held, A. McGrew, D. Goldblatt e J. Perraton, Global Transformations: Politics, Economics and Culture (Cambridge: Polity, 1999), 2.

[7] Mathias Czaika e Hein de Haas, “The Globalization of Migration: Has the World Become More Migratory?”, em International Migration Review, 48 no. 2 (2015): 283-323, 284.

[8] Peter Berger e Samuel Huntington, eds. Many Globalizations: Cultural Diversity in the Contemporary World (Oxford: Oxford University Press, 2002).

[9] Berger e Huntington, Many Globalizations.

[10] Ulf Hannerz, Transnational Connections: Culture, People, Places (London: Routledge, 1996), 101.

[11] A. Appadurai, Modernity at Large: Cultural Dimensions of Globalization (Minneapolis, London: University of Minnesota Press, 1996).

[12] Jan Gehl, Cities for People (Washington, DC: Island Press, 2010).

[13] Ferdinand Tönnies, Community and Society (Mineola, NY: Dover Publication, 2002).

[14] Edward Glaeser, Cities, Agglomeration, and Spatial Equilibrium (Oxford: Oxford University Press, 2008).

[15] Émile Durkheim, Suicide: A Study in Sociology (New York: Free Press, 1966).

[16] Max Weber, The Sociology of Religions (London: Methuen, 1971).

[17] Peter Blau, Crossing Social Circles (Orlando: Academic Press, 1984).

[18] Michel Maffesoli, Le Temps des Tribus (Paris: Merridiens Klincksieck, 1988).

[19] Porque tribos urbanas são grupos de pessoas que têm aparências visuais, estilos pessoais e ideais semelhantes, e porque esses grupos também são muito ativos nas plataformas de mídia social, enviando mais de 300 milhões de fotos por dia apenas para o Facebook, cientistas nas áreas de IA (inteligência artificial) e machine learning estão desenvolvendo algoritmos para capturar as características que distinguem cada subcultura e classificá-las em uma base de dados de tribos urbanas https://vision.cornell.edu/se3/wpcontent/uploads/2014/09/utribes_bmvc13_final.pdf.

[20] Ethan Watters, Urban Tribes: Are Friends the New Family? (New York: Bloomsbury, 2003).

[21] Leah Libresco, Building the Benedict Option: A Guide to Gathering Two or Three in His Name (San Francisco: Ignatius Press, 2018). O principal proponente da “Benedict Option” é Rod Dreher.

[22] Joel Kotkin, Tribes: How Race, Religion, and Identity Determine Success in the New Global Economy (New York: Random House, 1993).

[23] Roland Barth, Ethnic Groups and Boundaries: The Social Organization of Culture Difference (Long Grove, IL: Waveland Press, 1969), 11.

[24] Wolfgang Welsch, “Transculturality – The Puzzling Form of Cultures Today”, em Spaces of Culture: City, Nation, World, ed. por Mile Featherstone and Scott Lash (London: Sage, 1999).

[25] Li, 2012.

[26] No modelo monoétnico, o culto de adoração é realizado no idioma mais conhecido pelo grupo étnico. Para o grupo majoritário no país, o idioma seria o idioma nacional; para todos os outros grupos internacionais, no entanto, o idioma seria o que eles falam em suas casas. Frequentemente, há muito pouca interação entre eles, mesmo quando adoram na mesma cidade. Mas a força da igreja monoétnica está em sua homogeneidade, tornando assim difícil ou quase impossível sua transformação.

[27] No modelo multiétnico, o culto de adoração é feito no idioma nacional. Aqueles que defendem esse modelo o veem como o padrão do Novo Testamento, que expressa a unidade que une diferentes grupos étnicos. Há um desejo de alcançar os diferentes grupos étnicos da cidade e reuni-los em uma igreja. A insistência do modelo multiétnico, no entanto, em usar a língua nacional, torna-o menos eficaz para alcançar a primeira geração de imigrantes, que muitas vezes são os mais receptivos ao evangelho. Em alguns casos, o forte domínio do grupo étnico majoritário na liderança, adoração e preferências de evangelismo impede a assimilação de outros grupos minoritários na igreja. Outro desafio da igreja multiétnica é o uso da língua nacional. Este requisito da língua única significa que, para se tornar um cristão, é necessário primeiro aprender a língua nacional e adotar certas culturas e costumes do país anfitrião. O desafio mais significativo das igrejas multiétnicas, no entanto, é a ausência na adoração e na liderança de pessoas da primeira geração. Por ser multiétnico, cada grupo que se junta deve desistir de algo para evitar que a igreja se separe. A tendência natural e o modo menos resistente é que as pessoas gostem de estar com quem é como elas. Elas gostam de formar enclaves e viver em enclaves.

[28] Veja um exemplo de plantação de igrejas interétnicas no final do artigo.

[29] Mark Granovetter, “The Strength of Weak Ties”, em American Journal of Sociology 78 no. 6 (1973): 1360–1380.

[30] As limitações deste artigo impedem a descrição precisa e detalhada do Shalom City Index, mas trata-se de uma parte importante da dissertação de doutorado do autor que está em andamento. Consulte o site: www.shalom.city.

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