Fundamentação do Antigo Testamento
por Kevin D. Bradford
Esse conteúdo é parte do Curso de Introdução à Missões da Editora Vida Nova. Publicado com permissão.
Muitas vezes, uma apresentação da base bíblica das missões enfocará principalmente algumas passagens bastante conhecidas do Novo Testamento. Afinal, como alguns podem afirmar, o Antigo Testamento lida com Israel, e a Grande Comissão só foi dada depois da ressurreição de Jesus. Assim, estudantes da Bíblia que seguem esse raciocínio frequentemente afirmam que, embora as missões mundiais sejam importantes, não são mais do que muitas outras tarefas da igreja.
No entanto, é muito importante ver a base para a missão de Deus tanto na vida do próprio Jesus (a ser considerada no próximo capítulo) como no Antigo Testamento. Sem essa perspectiva mais ampla, as missões parecerão uma “novidade” nas coisas que Deus está fazendo no mundo.
A apresentação que se segue retrata um Deus que não apenas criou o mundo e o governa soberanamente, mas também deseja um relacionamento com a humanidade. Desde as primeiras páginas da Bíblia, vemos Deus alcançando homens e mulheres, e depois chamando os que com ele se relacionam para servi-lo, alcançando ainda outros. As pessoas e grupos envolvidos variam, mas o padrão geral é muito parecido com o que vemos no Novo Testamento.
DEUS SE RELACIONA COM O SER HUMANO (GN 1—11)
“No princípio, Deus criou…” As palavras iniciais da Bíblia já nos informam sobre vários conceitos-chave que, infelizmente, são contestados por muitas pessoas hoje:
- A existência de um Deus poderoso e ativo é pressuposta como uma verdade autoevidente.
- O universo criado existe por causa de Deus, não como uma entidade independente e atemporal.
- Existe um propósito na criação de Deus — um plano que, presumivelmente, pode ser discernido por outros.
À medida que continuamos lendo, aprendemos sobre a simetria e a ordem da Criação de Deus. E somos informados repetidamente sobre as intenções benevolentes do nosso Criador, que dota a criação com bondade (cf. Gn 1.4,10,12,18,21,25).
Mas o relato da Criação de Gênesis 1 e 2 não apenas esclarece o caráter de Deus e nos diz como as coisas vieram à existência; ele também apresenta uma visão significativa da natureza do homem. Com palavras introdutórias que são dramaticamente diferentes das relacionadas à criação dos demais seres nos mares, no céu e na terra, homens e mulheres são criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26).
O significado preciso da “imagem de Deus” tem sido debatido pelos teólogos durante séculos. Mas não pode haver dúvida de que coloca a humanidade em uma posição privilegiada porque, após esse toque de coroação, Deus declara que tudo na criação é “muito bom” (Gn 1.31).
Ao mesmo tempo, é óbvio que a “imagem de Deus” torna a humanidade diferente dos animais, que são criados “segundo suas espécies” (Gn 1.21,24,25).
Podemos compartilhar características em comum com os animais, mas homens e mulheres são criados com algo que os torna semelhantes ao seu Criador. A atenção especial dada à criação do homem e da mulher em Gênesis 2 não deve, portanto, ser uma surpresa. O homem recebe um papel de supervisão no Jardim e, ainda mais importante, a oportunidade de dialogar e ter comunhão com o seu Criador.
A Queda da humanidade, como registrada em Gênesis 3, fornece outra peça do quebra-cabeça, essencial para entender por que as coisas são como são hoje. O mundo que vemos nem sempre revela a sabedoria do desígnio de Deus. Aqui na Terra frequentemente as coisas são daninhas e até perigosas. O amor de Deus ainda pode ser discernido, mas desonestidade, corrupção e hostilidade também nos cercam. Assim como Adão e Eva cederam à tentação de satisfazer os próprios desejos independentemente da vontade de Deus, essa experiência é compartilhada por todos os que vieram depois deles.
Entretanto, não basta simplesmente saber que esse não é o plano original de Deus. A vida da humanidade não é apenas difícil (Gn 3.15-19), mas sobretudo leva a um futuro separado dele. O julgamento de um Deus santo é certo. Ao invés da possibilidade de vida eterna com o Criador (cf. Gn 2.9; 3.22), a experiência da humanidade é a separação dele e a morte (cf. Gn 3-4).
Essa perspectiva sombria poderia levar o leitor ao desespero, mas também levanta uma questão: “Como nossa situação pode ser resolvida, se é que é possível resolvê-la?”. Felizmente, o mesmo capítulo que apresenta a Queda nos dá pelo menos duas pistas importantes de que existe uma solução. (…)