A Crise Climática e a Criação de Deus
Chamando à Ação os Líderes Cristãos Globais
por Lalbiakhlui ROkhum, Jasmine Kwong e Dave Bookless
Eventos relacionados ao clima estão nos noticiários quase diariamente. Esses acontecimentos são um desvio do ministério do evangelho ou uma oportunidade para missões?
No livro John Stott on Creation Care [John Stott e os cuidados com a criação],[1] pergunta-se a Stott se é adequado associar o engajamento na ecologia à “obra missionária”. Alguns entendem o envolvimento do cristão com as questões ambientais como uma digressão da proclamação do evangelho que “salva almas”. No entanto, a crise ambiental que afeta todos os cantos do mundo não pode ser ignorada. O amor cristão requer que respondamos às pessoas afetadas por desastres, entre estes a crescente crise climática.
O Compromisso da Cidade do Cabo declara:
Se Jesus é o Senhor de toda a terra, não podemos desvincular nosso relacionamento com Cristo da forma como agimos em relação à terra. Proclamar o evangelho que diz que “Jesus é Senhor” é proclamar o evangelho que inclui a terra, uma vez que o senhorio de Cristo é sobre toda a criação. O cuidado com a criação é, portanto, uma questão do evangelho dentro do Senhorio de Cristo. (CTC I-7).[2]
Se o cuidado com a criação é uma questão do evangelho sob o senhorio de Cristo, então qual deve ser nossa resposta?
Questões climáticas globais
Em julho de 2023, depois de os cientistas terem confirmado que julho seria o mês mais quente já registrado em todo o mundo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou: “A era do aquecimento global terminou; chegou a era da ebulição global… Líderes precisam liderar. Chega de hesitação, chega de desculpas, chega de esperar que os outros ajam primeiro”.[3]
As questões climáticas são uma realidade global crescente e impactam todo ser vivente. Escrevemos da região da Ásia-Pacífico, que é particularmente vulnerável às alterações climáticas em virtude de sua dependência dos recursos naturais e da agricultura, das zonas costeiras densamente povoadas, da fraqueza das instituições e da pobreza generalizada.[4]
As alterações climáticas afetam hoje até mesmo os países ricos do Norte Global. Para as nações mais pobres, essa sempre foi uma realidade dolorosa. Em países insulares como as Filipinas, as comunidades costeiras de pesca e os ecossistemas marinhos correm o risco de tempestades cada vez mais intensas e frequentes. As questões climáticas agravadas pelas mudanças na utilização dos solos (por exemplo, desmatamento e exploração mineira) ameaçam a segurança alimentar e a biodiversidade.
A Índia também é um dos países do mundo mais propensos a desastres naturais. Sua localização e geografia tornam o país vulnerável a riscos naturais, incluindo ciclones, secas, inundações, terremotos, incêndios e deslizamentos de terra, com uma intensidade cada vez maior. Além dos danos irreparáveis aos ecossistemas, o impacto sobre os seres humanos é devastador, sendo os pobres – que menos contribuem para o problema – os mais gravemente afetados. Pelo menos 10.281 agricultores na Índia tiraram a própria vida em 2019, representando 7,4% dos suicídios naquele país.[5]
Esses exemplos baseados na experiência vivida pelos autores refletem a intensidade da crise global. É imperativo que os líderes políticos respondam e ajam. Em muitas regiões, as igrejas já começaram a fazer sua parte, porém muitas estão paralisadas diante dos imensos desafios. Quais são estes desafios e como podemos enfrentá-los como uma comunidade cristã global?
Criando oportunidades a partir dos desafios climáticos
Em 2012, o Chamado à Ação, documento assinado na Jamaica, resultado da Consulta Global Lausanne sobre o Cuidado com a Criação e o Evangelho, dirigiu-se à igreja global, ao afirmar: “Enfrentamos uma crise que é premente, urgente, e que deve ser resolvida na nossa geração”.[6] Embora uma década tenha se passado desde a assinatura deste documento, ele destaca questões importantes, algumas das quais vamos discutir.
*fonte: Lausanne.org