Breve comparativo de alguns pilares da fé budista com crenças bíblicas cristãs

Existência versus inexistência de Deus, impermanência versus eternidade, egocentrismo versus altruísmo e morte versus vida são alguns pontos

Alex G. Smith

Da sombra da figueira de Bo – onde Gautama Siddharta, o Buda, teria atingido a iluminação espiritual por volta de 500 a.C. –, o budismo avançou primeiro para o Nepal e, em seguida, para boa parte da Ásia, especialmente o leste e o sudeste. Hoje, sua ampla sombra se estende por todos os continentes, sendo que, em suas muitas variadas formas, o budismo popular influencia cerca de 1 bilhão de habitantes do planeta.[1]

Como um vapor invisível, cobriu o globo, infiltrando até no pensamento de cristãos desavisados: é comum hoje encontrar misturas de budismo e cristianismo, bem como muitos de seus ensinamentos em outras estruturas de crenças (Nova Era, por exemplo). Trata-se de uma onipresente absorção eclética. Seu crescimento dramático e silencioso se deu por meio de pessoas viajando a negócios, imigrantes e refugiados asiáticos e esforços missionários diretos.

Nesta era do pensamento pluralista, muitos acreditam que não é necessário se preocupar com a obscuridade das definições teológicas ou com a redução do mandamento bíblico de fazer discípulos de todos os povos étnicos. Afinal, afirma-se que todas as religiões acreditam em Deus e são formas paralelas de alcançar o Criador. [Isso não significa, contudo, que abordagens proselitistas e confrontacionistas devam ser adotadas entre os que não professam a fé cristã. Aqui, por exemplo, você pode ler o artigo “Há maneiras não proselitistas de se estabelecer novas igrejas em terras muçulmanas?”.] Tendo sido missionário da OMF na Tailândia (país em que cerca de 95% da população declara-se budista) por quase 20 anos, ouvi com frequência o budista tailandês responder ao evangelho de Cristo: “Oh, o budismo e o cristianismo são exatamente iguais”. Enquanto pareçam existir semelhanças superficiais entre o budismo e o cristianismo, há diferenças significativas e graves. Em seguida, relaciono alguns pilares das crenças budistas e os comparo com fundamentos bíblicos da fé cristã.

Deus não existe
O conceito bíblico de um Deus pessoal supremo que existe fora de sua criação e que, em poder e glória, trouxe existência a todas as coisas, é negado pelo budismo. Todos os seres sobrenaturais, incluindo anjos, demônios e todos os deuses, foram rejeitados por Buda. Um sábio budista bem conhecido escreveu que ele acreditava em Deus, mas depois explicou que Deus deve ser equiparado ao conceito budista de ignorância ou ao carma! Estudantes tailandeses geralmente diziam que, se eu pudesse lhes mostrar Deus, eles acreditariam em Jesus. Eu simplesmente pedia que me mostrassem primeiro a aparência do perfume de uma rosa ou da eletricidade. Nenhum é visível, mas existem e podem ser experimentados.

Divindade de Cristo negada
Como Deus-homem perfeito, Cristo é o único salvador (sem pecado) do mundo. Frequentemente, perguntava ao meu público budista quem eles pensavam que Jesus é. As respostas incluíam: um homem bom, um profeta, o fundador da religião cristã e o irmão mais novo do Buda! O conceito da divindade de Cristo é incompreensível para a mente budista.

O homem não é um ser espiritual
A Bíblia ensina que homens e mulheres foram feitos à imagem de Deus. Todos são seres espirituais que possuem uma preciosa e eterna qualidade. Os seres humanos são almas vivas com personalidade, valor e dignidade. Buda não sustentava a humanidade com alma ou personalidade. Para ele, as pessoas eram impermanentes e transitórias, sempre enfrentando o problema de como escapar do sofrimento. Toda a vida não tem sentido. Receber a Cristo, no entanto, traz uma satisfação rica e dá um verdadeiro significado à vida.

Carma é a lei de ferro
No budismo, o carma é a lei de ferro. Ninguém escapa nem da reencarnação nem do sofrimento. Isso gera atitudes fatalistas. Em contraste, o evangelho de Cristo oferece esperança, salvação e otimismo tanto para o presente quanto para o futuro, mesmo no meio do sofrimento. Lembro-me de trabalhar com o Sr. Yu, um paciente com lepra na Tailândia. Como um budista, ele acreditava que, em encarnações anteriores, deveria ter sido extremamente mau para ter contraído uma doença tão terrível. Porque ele perdeu os dedos dos pés e das mãos e até a maior parte do nariz por conta da lepra, desistiu da vida e queria apenas morrer. Então, os missionários da OMF contataram-no, trataram dele e testemunharam ao Sr. Yu. Mais tarde, ele aceitou a Cristo, foi reabilitado, treinado na Bíblia, e ganhou meios de sustento. Serviu como um evangelista frutífero e um pastor enérgico por cerca de três décadas. O poder de Cristo trouxe mudanças positivas à sua vida.

O pecado não tem consequências
Os conceitos de pecado nos dois sistemas de crenças estão em forte contraste. Para os budistas, o pecado não tem consequências diante de um Deus santo. Para eles, a existência é pecado – o desejo e/ou a decepção transitória são pecado. Popularmente, o pecado está matando a vida de qualquer forma. Acredita-se que o pecado seja o efeito de um carma. Lembro-me de uma mulher tailandesa que me disse uma vez: “Nunca pequei”. É difícil ajudar alguém que não sente que precisa de ajuda. Na melhor das hipóteses, o pecado é uma ilusão, embora as consequências cármicas se acumulem para aqueles que não conseguem quebrar os intermináveis ciclos de reencarnação.

O cristão identifica o pecado como um princípio em toda a humanidade: “Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus” (Rm 3.23 NTV). Trata-se de uma falha resultante da queda – a quebra do relacionamento entre Deus e o homem – relatada em Gênesis 3. Na prática, o pecados são violações do caráter de Deus, uma afronta a ele por perder a marca, e geram falhas morais.

Salvação por meio de si próprio
Para o cristão, a salvação só é possível por meio da graça de Deus na provisão de Cristo. No budismo, nenhum salvador existe. Na verdade, Buda disse que não podia ajudar ninguém, só poderia apontar o caminho. Cada um deve se salvar. Assim, pelo humanismo, os budistas populares tentam a autolibertação fazendo grandes obras e criando méritos. É preciso superar o carma pelo autoesforço. O conceito de substituição não está presente no budismo, por isso, é difícil compreender e aceitar a morte substitutiva de Cristo, o que representa um grande problema na evangelização dos povos budistas. Felizmente, encontrei uma ilustração do folclore tailandês que retrata a substituição. Há muito tempo, um rei do sul cercou o rei de Chiangmai no norte. Em vez de verem a cidade destruída, os dois reis concordaram em cada um escolher um homem para participar de um desafio: veriam qual dos dois representantes ficaria sob a água por mais tempo. Ambos mergulharam no rio, e o primeiro a emergir foi o homem do sul. A liberdade para Chiangmai foi assegurada. Como o homem do norte não não ressurgiu das águas, o rei mandou homens para encontrá-lo. Descobriram que ele tinha se amarrado a um tronco de árvore e, deliberadamente, sacrificado sua vida pelas pessoas da cidade.

Morte, não vida
Como já visto, existem muitos contrastes entre os pilares da fé budista e da fé cristã –impermanência versus eternidade, orientação egocêntrica versus altruísmo etc. –, mas o contraste mais gritante é que a esperança máxima no budismo é a morte ou a extinção. Em Cristo, a vida é eterna.

Verdade bíblica e divulgação
Os sistemas de crenças budista e cristão não são semelhantes. Na maior parte dos conceitos, são opostos. Isso desafia as igrejas de duas maneiras:

  1. A fortalecer os fundamentos da verdade bíblica com verdadeiro conhecimento e discernimento;
  2. A renovar a divulgação urgente do evangelho entre todos, incluindo os budistas, com oração coletiva pelo ministério amoroso e genuíno.

Que mais cristãos compartilhem a verdade de Cristo, o redentor vivo, com todos que, sem exceção, carecemos dela.

OMF atua entre os budistas há 135 anos. Já considerou ser uma testemunha de Cristo entre eles neste século?

 

Quer saber mais sobre o budismo e as religiões asiáticas?
Acesse aqui uma seleção de 16 artigos sobre o tema.

 

Sobre o autor
Alex Smith é missionário da OMF Internacional há mais de 45 anos. Serviu por duas décadas entre budistas na Tailândia, e, desde então, ministra ao redor do mundo. Ele dá aulas sobre o Budismo, Cristianismo e Religiões Globais em seminários na Ásia e no ocidente.

Esse artigo tem como base o capítulo 4 do livro O Budismo através do olhar cristão, de Alex Smith, publicado pela OMF Internacional (OMF Books) em parceria com a Sepal. A edição em português é de 2017 e segue versões anteriores em alemão e espanhol. A publicação pelo Martureo foi devidamente autorizada pela OMF.

 

[1] Apesar de influenciar cerca de 1 bilhão de pessoas, aproximadamente 500 milhões (cerca de 7% da população mundial), declaram-se budistas no mundo hoje.

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