Asas de Socorro, que há 67 anos atua com aviação missionária, busca missionários
Em entrevista, Carlos Más, Diretor Executivo da organização, pede aos líderes cristãos brasileiros: “Leve Asas à sua igreja”
Fernanda Schimenes
O fato de Carlos Roberto de Mello Más – Diretor Executivo e Superintendente de Captação de Recursos e Comunicação de Asas de Socorro – ser um enfermeiro obstetra diz muito sobre a organização. Conhecida por ser a maior na área de aviação missionária no Brasil, ela também atua em outras frentes, como mostra a entrevista a seguir. Foi por conta de uma viagem missionária de curto prazo para prestar assistência de saúde na década de 80 à uma região remota onde hoje é o Estado do Tocantins que Más teve seu primeiro contato com Asas de Socorro. Confira o bate papo e conheça, ao final, como funciona o processo para ser um missionário da organização.
Martureo – Quem é Asas de Socorro?
Carlos Más (CM) – É uma organização cristã missionária que atua em duas frentes: aviação missionária e programas de desenvolvimento integral transformador entre a população ribeirinha, quilombola e indígena do Norte do País.
Martureo – O que seria aviação missionária?
CM – Disponibilizar às organizações e obreiros cristãos que atuam em lugares de difícil acesso transporte aéreo seguro e com custo acessível. Há locais em que só o avião chega. Grosso modo, um voo de 30 minutos equivale a 1,5 dia de caminhada pela mata. Além disso, as aeronaves transportam muito mais carga, a integridade física das famílias missionárias no deslocamento é preservada e dá para contar com remoções em situações de emergência.
Martureo – Há quanto tempo existem?
CM – Em 1955, o casal Berk chegou no Brasil para implantar o primeiro centro de revisão de aeronaves com foco no trabalho missionário em áreas remotas do Norte do Brasil. No ano seguinte, a família Lewis juntou-se à equipe, e a organização adquiriu por 500 dólares o primeiro avião, um Piper PA-22 Tri-Pacer acidentado. Recuperaram-no e fizeram o primeiro voo em 1956 para Cuiabá. Foram dar assistência à Missão aos Índios da América do Sul, que servia junto aos xavantes, bororos, nhambiquaras e parecis. São 67 anos transportando cargas valiosíssimas – tradutores da Bíblia, evangelistas, plantadores de igreja, equipes de saúde etc. – sem nenhuma vida perdida. [Um relato detalhado sobre a história de Asas do Socorro está aqui.]
Martureo – Qual a fotografia atual da organização?
CM – Em Anápolis (GO), ficam a sede administrativa de Asas de Socorro e nossa escola de aviação e oficina aeronáutica. Temos outras 3 bases: Manaus (AM), Porto Velho (RO) e Boa Vista (RR). Nossa equipe é formada por cerca de 60 missionários incluindo maridos/esposas, uma parte deles ligada à aviação missionária (pilotos, mecânicos, instrutores), outra envolvida com nossos programas de desenvolvimento social. Além dos missionários, temos cerca de 20 colaboradores fixos, voluntários em diversas áreas, 4 diretores executivos, um conselho administrativo e um conselho fiscal. Temos hoje 9 aeronaves, sendo 7 terrestres e 2 hidroaviões.
Martureo – Quais são os principais programas na área de desenvolvimento social de Asas de Socorro?
CM – O Projeto Água Limpa, com comunidades ribeirinhas do Médio Purus, na Amazônia, é um deles. Já atuamos em cerca de 30 comunidades, alcançando mais de mil pessoas e devemos alcançar outras 10 este ano. A gente imagina que não tem problema de água na Amazônia, mas não é verdade. As comunidades precisam de apoio para gerir de forma sustentável os recursos hídricos; falta água potável, e os resíduos precisam ser tratados e destinados de forma correta. O Água Limpa envolve a instalação de estações de tratamento de água, bem como processos educativos e mobilização comunitária. Atuamos com parcerias; a Funasa, por exemplo, é quem faz o monitoramento da qualidade da água nas comunidades. A Meap tem sido outra organização parceira importante nesse projeto. Os recursos para a instalação de uma estação de tratamento em uma comunidade são da ordem de R$ 15 a R$ 17 mil, incluindo tubulação, viagens da equipe e tudo o mais. Temos uma campanha específica de captação para esse programa. Quem quiser doar pode clicar aqui.
Outro programa alcança a comunidade ribeirinha de São José do Araras, no meio da floresta amazônica, onde funciona o Espaço de Artes Ribeirinho, uma escola de música, dança, teatro e outras expressões que conta com voluntários de várias partes do Brasil e com as parcerias da Companhia de Artes MC16 e do Fundo Brasileiro para Missões. Outra parceria importante é com a Visão Mundial. Atuamos em conjunto com ela no barco para 50 pessoas que ela tem na Amazônia com programas de atendimento na área da saúde, prevenção de abuso sexual, ações de ajuda emergencial etc. Vale destacar que tudo é feito em conexão com as igrejas locais estabelecidas. Quem se interessar pode participar das viagens de curto prazo que promovemos.
Martureo – De onde vêm os recursos financeiros de Asas de Socorro?
CM – Antes quero mencionar que temos o selo Doar (Padrões em Gestão e Transparência) e recebemos o selo Melhores ONGS (2019). Sem dúvida, a igreja evangélica brasileira é a nossa principal colaboradora, seja por meio de doações diretas de seus membros ou mesmo de igrejas locais à organização, seja sustentando nossos missionários diretamente. Falando nisso, faço um apelo aos pastores e líderes para que levem Asas de Socorro às suas igrejas. Podemos participar de uma celebração, de uma conferência missionária ou de algum programa apresentando a missão, desafiando os membros a se tornarem missionários de Asas e falando de possibilidades de envolvimento. Nossa escola de aviação em Anápolis, bem como nossa oficina, também geram recursos. Elas prioritariamente treinam nossos missionários pilotos e mecânicos e realizam a manutenção de nossas aeronaves, mas também prestam serviços a terceiros. Das 9 aeronaves que citei, 2 ficam em nossa escola de pilotagem. Estamos em vias de nos tornar um centro de treinamento internacional para formar pilotos, inclusive, graças a parceiros como a JAARS e a MAF dos Estados Unidos. A JAARS também é uma grande colaboradora de nosso Banco de Combustível: para cada R$ 1,00 doado, contribui com outros R$ 2,00, o que é um grande incentivo para os que ofertam. É possível fazer aqui uma doação para esse fim. Isso porque o custo dos voos oferecidos por Asas de Socorro aos missionários e organizações missionárias (como Meva, Novas Tribos, Jocum, as juntas de missões denominacionais etc.) é subsidiado: enquanto a hora/voo de uma aeronave similar em uma empresa de taxi aéreo sai por cerca de R$ 3.000,00 conseguimos oferecer o serviço por R$ 1.300,00. Além disso, nossos missionários, sejam eles da área de aviação ou os que atuam em algum projeto de desenvolvimento social, são responsáveis por buscar o próprio sustento junto às suas igrejas enviadoras e outros mantenedores. Para se ter ideia, um missionário solteiro necessita de pelo menos R$ 5 mil por mês.
Martureo – Asas do Socorro precisa de mais missionários?
CM – Oramos por isso e estamos recrutando! Vamos precisar de mais mão de obra ao nos tornarmos um centro de treinamento internacional. Também há sempre a necessidade de renovação; na pandemia, infelizmente, perdemos um missionário por conta da Covid-19, e outros estão envelhecendo, devem se aposentar em breve. Em geral, os missionários de Asas de Socorro servem por muitos anos, a maior parte até se aposentar.
Martureo – O que é necessário para se voluntariar?
CM – Buscamos, em primeiro lugar, cristãos comprometidos com o reino de Deus e a proclamação do evangelho que se identifiquem com a missão e os valores da organização e tenham um chamado. A partir dos 18 anos, já é possível homens e mulheres se candidatarem. É necessária recomendação da liderança da igreja da qual é membro, são feitas entrevistas e avaliações psicológicas e de perfil. Mesmo dos missionários que atuam em áreas técnicas, como os pilotos e mecânicos, requer-se uma formação espiritual; eles fazem, pelo menos, um curso bíblico de um ano ou dois. Para isso, há hoje muitas opções, inclusive na modalidade EAD. No caso dos missionários que servirão na área de saúde, obviamente a formação em Medicina, Enfermagem ou Odontologia é prévia. Da mesma forma, educadores, assistentes sociais, engenheiros e por aí vai. No caso dos que se candidatam para ser pilotos ou mecânicos, há os que já têm alguma formação prévia e também aqueles que fazem toda a formação em nossa escola. Mesmo os que já têm certificações e experiência prévias passam por treinamento específico e rigoroso que exigimos, pois voar no Norte do Brasil e em outras regiões remotas é desafiador por conta da geografia, do relevo, do clima, das pistas de pouso… Além de por pilotos, há uma demanda por mecânicos, principalmente profissionais da área de aviônica (toda a parte eletrônica das aeronaves). Em geral, o primeiro ano de treinamento funciona como um namoro. Em seguida, firma-se um compromisso mais duradouro. Falando especificamente de um piloto, alguém que chega sem treinamento algum em geral leva cerca de 5 anos para começar a voar sozinho, quando é encaminhado para a base em que há mais necessidade.
Quer entrar em contato com Asas de Socorro?
(62) 4014-0333