A que nações somos enviados?
A necessidade de se buscar uma perspectiva missiológica condizente com o uso do termo nações conforme o seu sentido bíblico
Carlos del Pino
Este artigo foi publicado inicialmente na revista Capacitando para missões transculturais (No 20, 3o Ed. Digital, 2020), produzida pelo Departamento de Educação Missiológica (Demi) da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB). Trata-se de uma publicação anual com artigos missiológicos que pode ser adquirida pelo e-mail demi@amtb.org.br pelo valor de R$ 16,00 (edições disponíveis desde 2018).
A palavra nações que se usa atualmente ao se tratar do trabalho missionário deriva, basicamente, da versão da Grande Comissão conforme Mateus 28.19: “Ide e fazei discípulos de todas as nações”. Entretanto, embora a palavra nações esteja inquestionavelmente presente no texto bíblico, o sentido que lhe é atribuído atualmente veio transferido de outro contexto muito diferente. Especificamente falando, nos deparamos com duas realidades distintas que são colocadas juntas e levadas a compor um único sentido fundamental. Por um lado, temos o termo nações que ocorre na Bíblia e que, obviamente, tem o seu sentido e uso original e intencionado por seu autor, além de estar vinculado com o contexto no qual foi escrito; por outro lado, temos um determinado conceito antropológico de etnia (nações) derivado dos estudos científicos da sociologia moderna.
Estritamente falando, o uso da antropologia moderna na reflexão e trabalho missionários define-se como “conceitos, teorias, princípios e técnicas de campo da antropologia atual que são usados na missiologia tanto de forma teórica como prática”.[1] Nesse sentido, se a missiologia provê temas e objetivos teológicos, “a antropologia provê os processos e os padrões”.[2] A partir dessa realidade, o uso do termo nações centraliza-se, também, em seu sentido antropológico atual com ênfase na evangelização de cada etnia culturalmente definida conforme o seu próprio sistema econômico, ideológico, de relacionamentos interpessoais, de estrutura social e de organização política.[3]
Na junção de ambos – o termo que aparece na Bíblia e o seu uso científico atual – o que tem acontecido é que o conceito científico atual determina o sentido pelo qual o termo nações deve ser lido na Bíblia. Como pode ser facilmente observado, essa junção modifica totalmente o sentido bíblico que esse termo possui per se, levando os “missiólogos a geralmente limitarem o seu interesse à antropologia (cultural), dado seu foco tradicional nas sociedades exóticas, frequentemente de pequena escala e não alfabetizadas”.[4] Certamente, o trabalho hermenêutico, teológico e missiológico deveria ser o contrário do que tem sido feito: o sentido do termo nações, conforme todo o contexto literário que está inserido na Bíblia, e que define claramente o seu “sentido bíblico”, é o que deveria interferir de forma transformadora no trabalho científico moderno. Dessa forma, estaríamos em coerência com os princípios básicos da hermenêutica e da essência da própria missiologia.
Entretanto, a missiologia atual seguiu o caminho de permitir que um conceito extrabíblico se tornasse o parâmetro de definição do sentido dado ao texto bíblico, e isso tem desviado a ação missionária da igreja do seu caminho bíblico. Como exemplo disso, há comentários sobre a palavra nações em Mateus 28.19 que a definem como “grupos étnicos e tribais do mundo… Para se entender melhor o que o Senhor Jesus queria dizer, há que se fazer diferença entre o conceito de nação no sentido político e o conceito de nação no sentido étnico”.[5] Outro exemplo é afirmar-se que
a evangelização que não leva em conta as diferenças culturais e sociais dos grupos étnicos não alcançará todos os tipos de povos, e afastará muitos do evangelho… Não se pode usar nenhum fator comum que identifique tais grupos, pois são muitos – raça, língua, crenças religiosas, sistemas de valores, condição étnica, classe social e muitos mais. De modo que temos de definir tais grupos em termos mais gerais: grupo étnico é um grupo sociológico significativamente grande de pessoas conscientes de partilharem um vínculo comum.[6]
Essa prática, ainda que muitas vezes assumida inconscientemente, está muito estendida na forma como lemos as Escrituras. É como se no Sola Scriptura o “sola” se localizasse fora do “scriptura”. Formalmente essa prática se conhece mais pela expressão cânon fora do cânon, ou seja, “acomodar o evangelho a marcos de sentido, verdade e plausibilidade mais culturais do que canônicos.[7] Nesse sentido, é comum que a aproximação e a leitura do texto bíblico sejam feitas a partir de estruturas conceituais ou de determinadas ideologias[8] previamente estabelecidas, que são usadas como chave hermenêutica para a interpretação da Escritura. Refiro-me, portanto, “às disposições pré-cognitivas ou competências que são possibilitadas por nossa participação nas práticas compartilhadas de um determinado mundo social e histórico”.[9] Estabelecer um critério ideológico fora da Escritura que seja determinante para a sua interpretação, seja de ordem política, sociológica, econômica, psicológica ou religiosa, deve ser considerado claramente como um “reducionismo”[10] tanto da canonicidade da Escritura, como das conclusões e práticas que possam ser derivadas dele. Essa prática, no campo da missão, acabou por gerar uma determinada “cultura de missão” que, ao invés do que tem ocorrido, “teria de estar enraizada no Novo Testamento”.[11]
Por outro lado, é fundamental buscar e resgatar o sentido que essa e outras palavras têm em seu próprio contexto bíblico, já que consideramos que “a Escritura se constitui também no script para a missão que está em curso pela igreja”[12], e que não queremos nos acostumar à secularização que parece já ser definitiva e decisiva quanto ao uso do termo nações pela missiologia atual.[13] Assim sendo, quero oferecer duas breves abordagens do uso do termo nações na Bíblia.
Inicialmente, notamos que no Antigo Testamento as palavras עם e ‘גו
denotam um grupo de homens ou animais associados visivelmente e conforme a experiência. Não há ênfase nas marcas ou bases particulares da comunhão ou do relacionamento, nas conexões políticas ou culturais, como em palavras como משפתה לשון ארץ (Gn 10.31: “conforme seus clãs e línguas, em seus territórios e nações[14]), que podem ser usadas para pessoas em um sentido mais racial, linguístico ou geográfico. Somente com o decorrer da história da religião judaica é que as palavras ‘גו e עם passaram a ser distinguidas com mais precisão.[15]
Deve-se reconhecer, ainda, que essas palavras hebraicas correspondem frequentemente na LXX pelos termos gregos εθνος e λαος e devem ser consideradas juntamente, ainda que λαος foi assumindo seu próprio lugar e sentido no Novo Testamento[16]; assim sendo,
na LXX, λαος significa, principalmente, povo no sentido de ‘nação’. Entretanto, no NT o sentido estatisticamente predominante é o popular sentido de ‘multidão’, ‘população’, ‘povo’ sem implicações de membresia a uma união nacional em distinção com outros povos.[17]
Em Isaías 66.18-23, o termo nações aparece com certa insistência, e nos dá uma amostra da perspectiva missionária dos profetas. Inicialmente, devemos nos lembrar que em sua fala final o profeta mostra o contraste entre a vida dos justos e injustos com destaque para a salvação do remanescente fiel (65.8-16), para a criação do novo céu e nova terra (65:16b-25) e a felicidade eterna do povo de Deus (66.10-24). Esses temas têm como pano de fundo a expectativa profética do fim do exílio babilônico, quando Deus enviará o remanescente fiel que sobreviveu à perseguição e à tribulação do exílio (19.20) para declarar a sua glória e servi-lo como sacerdote.
Em primeiro lugar, vemos que diante da terrível idolatria e do perverso afastamento de Deus por parte de “todos os homens” (66.15-17), o pecado se espalhou a todas as dimensões da vida humana e por toda a humanidade, entre todas as nações, mas especialmente entre os israelitas. Por isso, o Senhor virá para “ajuntar todas as nações e línguas e elas virão e verão a minha glória” (66.18); portanto, a ação concreta de Deus contra o pecado é tanto o exercício do seu justo juízo (66.15-17) como da sua graça salvadora[18]. A expressão todas as nações e línguas, conforme nos lembra Ellicott, “embora não seja incompatível com a autoria de Isaías, é especialmente característica dos profetas do exílio (Dn 3.4,7,29; 4.1; Zc 8.23)”.[19] Em outras palavras, os profetas estavam bem conscientes de que a salvação de Deus inundaria a terra, chegando a toda a humanidade (Is 19.20-25; 45.22- 25; 49.1-7; 53.10-12; 59.19; 60.3,5; Jr 3.17; Zc 8.23; Ml 1.11). A mensagem de Isaías é a seguinte: a ação salvadora de Deus não ficará restrita à uma nacionalidade ou etnia (em seus sentidos modernos), mas terá uma abrangência universal estendendo- se a pessoas de todos os povos. Além disso, a salvação de Deus se contrapõe ao pecado estabelecido, não apenas oferecendo-lhe uma alternativa, mas rompendo definitivamente com o império das trevas, juntando as nações ao redor de si mesmo e de sua glória.
Em seguida, vemos que juntar as nações não é a ação final da graça de Deus. Entre essas nações juntadas por Deus para que contemplem a sua glória, ele porá um “sinal” (66.19), que pode ser uma referência ao juízo de Deus contra os que dele se afastam, ou um alerta aos que creem, ou mesmo uma referência a Cristo, conforme Lucas 2.34, indicando que os que o rejeitam perecem e os que o aceitam viverão eternamente. Um restante é alcançado pela graça salvadora de Deus e são enviados “para promover a conversão dos gentios e a restauração de Israel”[20]; portanto, de toda a humanidade. Assim sendo, o que caracteriza e justifica o direcionamento do envio às nações é o fato de elas estarem distantes de Deus pelo seu pecado e impossibilitadas de ouvirem falar de Deus, como diz o profeta: “não ouviram falar de mim e não viram a minha glória” (66.19). Isso torna significativo o envio do remanescente fiel a toda a humanidade, em concordância com Romanos 10.13-15.
É interessante observar a forma como Isaías descreve o que ele chama de nações: Társis (Espanha), Pul e Lude (norte da África), Tubal (Turquia), Java (Grécia) e até as terras do mar mais remotas (Is 49.1,6; Sl 19.4; 67.7; At 1.8; Rm 10.18)[21]. Observamos, também, o paralelo existente entre essa lista de nações e as viagens missionárias de Paulo, inclusive seu desejo de pregar na Espanha (Rm 15.24,28) e em todo o mundo gentílico. Sabemos, pelos relatos de Atos, que Paulo foi avançando gradativamente em cada uma de suas viagens:
- começando por evangelizar a região centro-sul da Turquia (primeira viagem – At 13.4-14.28),
- voltando a passar pela Turquia e chegando à Grécia (segunda viagem – At 15.36-18.23),
- repetindo de forma um pouco mais ampla o mesmo trajeto posteriormente (terceira viagem – At 18.24-21.26).
Portanto, é provável que Isaías 66 tenha sido a fundamentação teológica do chamado, envio e estratégia missionária de Paulo para levar o evangelho e a glória de Deus a todos os gentios. Claramente o envio missionário se destina ao mundo todo, a toda humanidade.
Nos versos finais, vemos a extensão universal da ação redentora e graciosa de Deus. A expressão “dentre todas as nações trarão os irmãos de vocês” (66.20), que se refere originalmente ao retorno dos israelitas do exílio babilônico, “é transferida aos gentios convertidos (Rm 15.16)”.[22] A santa vontade de Deus é que a mensagem da salvação seja universalmente proclamada, em todos os lugares do mundo, em todas as épocas da história, dentro de todas as classes e segmentos sociais, sem distinção religiosa, econômica, política, cultural, étnica, sexual e outras de caráter humano. É importante, ainda, notar a expressão “toda a humanidade virá e se inclinará diante de mim” (66.23), já que podemos relacioná-la ao v.16, no qual Deus declara entrar em juízo contra todos os homens ou toda carne. Se no v.16 todos os homens, ou toda carne (humanidade), estão distantes de Deus pelo pecado, agora no v.23 toda a humanidade (os que creem dentre a humanidade) o adora e constata seu juízo sobre os incrédulos (66.24).
Passando ao Novo Testamento, não podemos nos esquecer de que é atribuído à palavra nações, tal como ocorre em Mateus 28.19, o atual conceito antropológico de “etnia e cultura”. Entretanto, essa palavra está associada aqui à ação de fazer discípulos não unicamente entre os judeus, mas sim entre gentios e judeus. Além disso, se relaciona com o fato de Cristo assumir o reinado eterno sobre tudo e sobre todos (28.18). Esse conceito reflete perfeitamente o ensino de Daniel 7.14: “ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído”, mostrando claramente que toda a humanidade adorará ao Senhor ao invés de adorar uma estátua sem vida (3.4-5).[23]
A palavra nações, em seu contexto literário no evangelho de Mateus, responde ao conflito de entendimento que havia nos inícios da igreja com respeito aos gentios e judeus. A igreja, em um primeiro momento, por ter se originado no contexto judaico, cria que a evangelização deveria se restringir aos judeus (Mt 10.5-6), mas logo essa restrição inicial deu lugar a uma missão que se preocupou com a formação de discípulos de Cristo entre todos os seres humanos (judeus e gentios).[24] Devido a isso, para alguns[25],
εθνη (nações), como termo grego regular que designa os gentios, serviu para arguir-se que esse mandamento excluía os judeus da esfera da missão dos discípulos. Entretanto, o envio dos discípulos aos gentios é meramente uma extensão da esfera da sua missão e não necessariamente implica a secessão da missão a Israel, a qual já havia sido ordenada e agora pode ser considerada definitiva.[26]
Essa rejeição dos judeus, como parte dos que deveriam receber o evangelho de Cristo por estarem excluídos da expressão todas as nações, tem crescido ultimamente, sendo que esse suposto
antijudaísmo do evangelho de Mateus foi notado por muitos intérpretes. Um desenvolvimento mais recente dessa interpretação é o surgimento da visão de que o autor do evangelho não poderia ter sido um judeu e que ele não estava escrevendo a judeus.[27]
Entretanto, o uso desse termo no Novo Testamento inclui um significativo número de passagens nas quais ele não tem nenhum sentido ou característica especial. Há um outro grupo de textos em que o termo designa os povos em um sentido geral, incluindo Israel. Por fim, há um grupo mais reduzido de textos no qual essa palavra se refere estritamente a todas as nações. Além disso, essa palavra é usada em diversos textos como referência estrita aos gentios em contraste com os judeus e os cristãos devido ao seu transfundo veterotestamentário.[28] Diante disso, não há dúvidas quanto a que todas as nações indica o “alcance da universalidade”[29] da missão de Cristo e, consequentemente, também da vocação da igreja em missão. Devido a isso e “ao senhorio de Jesus que agora demanda uma missão universal”[30] (28.18), devemos discipular pessoas em todos os contextos humanos e sociais, em todas as regiões do mundo, em todas as épocas da história e em cada geração até o retorno de Cristo.
Além de Mateus 28.19, encontramos essa expressão também em outros textos desse evangelho (24.9,14; 25.32) sempre incluindo judeus e gentios no contexto humano geral e universal. Outras expressões paralelas também são usadas por Mateus, como “o evangelho será pregado à totalidade do mundo habitado” (οικουμηνε – 24.14), “sois a luz do mundo/humanidade” (κοςμω – 5.14; 13.38), “em qualquer lugar do mundo/toda a humanidade” (εν ολω το κοσμω – 26.13).[31] Mateus não nos ensina que Cristo haja sido enviado somente aos judeus, tampouco unicamente aos gentios; antes, sua intenção é apresentar-nos a Cristo como o único salvador de toda a humanidade (sem distinção de classes, grupos, etnias, economia ou experiência religiosa prévia). De fato, ele se alinha a Dn 7.14, levando-nos, como igreja, a reconhecer sempre, de forma conceitual, teológica e estratégica, que no reino de Deus “a membresia não se baseia na raça, mas sim na relação com Deus por meio de seu Messias (3.9; 8.11; 12.21; 21.28-32,41-43; 22.8-10; 24.31; 26.13)”.[32]
Com esses dados em mente, devemos buscar uma perspectiva missiológica condizente com o uso do termo nações conforme o seu sentido bíblico. Inicialmente, portanto, devemos nos fazer algumas perguntas fundamentais, e respondê-las à luz do uso estritamente bíblico desse termo:
- O que é missão?
- Qual é a extensão do trabalho missionário?
- Para onde vai a nossa missiologia evangélica popular?
Posteriormente, e como consequência das respostas encontradas, passamos a repensar os nossos projetos, estratégias e ênfases de trabalho missionário. Certamente essas perguntas nos levam a definir a missão como uma vocação dada por Cristo, à igreja, de se consagrar à tarefa de formar novos discípulos e seguidores de Cristo entre pessoas de todos os lugares, épocas e condições, transmitindo a todos os seres humanos a história da salvação de Deus. Isso nos impede de definir a missão da igreja a partir de uma visão determinada por quaisquer conceitos que não sejam derivados diretamente do sentido bíblico, sejam antropológicos, linguísticos, sociológicos, psicológicos, filosóficos ou de qualquer outra área do conhecimento.
Em outras palavras, o sentido bíblico do termo nações, e seu uso na Bíblia, nos oferece suficiente conteúdo para traçarmos os contornos teológicos que definem a missão da igreja e, consequentemente, também as suas estratégias e prioridades na obra missionária. Serve como guia para uma conceituação missionária coerente com a palavra de Deus e que se reflete nas práticas da igreja. Olhando pelo seu aspecto negativo, por outro lado, podemos afirmar que o sentido bíblico do termo nações, e seu uso na Bíblia, não nos autoriza a usar conceitos antropológicos atuais para delimitar áreas e grupos humanos ou definir metodologias baseados na sua eficiência social, conformando assim a conceituação fundamental da própria missiologia e do trabalho missionário da igreja, como se fosse uma conceituação bíblica. Portanto, a palavra nações não nos permite escolher alguns grupos humanos específicos devido a seu contexto de vida tribal ou de situação religiosa “fechada ao evangelho”, ou regiões isoladas, distantes e exóticas do mundo, como a “opção missionária preferencial” da igreja em detrimento de outros.
À luz desses fatos, devemos assumir de uma vez por todas que o nosso único campo missionário é o mundo, ou seja, a humanidade toda e todas as dimensões da vida humana em todos os lugares e em cada geração. É importante, também, reformular, sempre que necessário, todos os nossos conceitos e práticas missionárias considerando seriamente o conceito bíblico de nações. Esses passos podem não ser os mais confortáveis ou práticos à luz de tudo o que já foi construído e das vidas que já foram consagradas a partir desse tipo de interpretação de termos como nações e outros que deveriam ainda ocupar-nos. Entretanto, somos chamados por Deus fundamentalmente para glorificá-lo e servi-lo biblicamente, o que nos exige atitudes de constante renovação conceitual e ministerial.
Sobre o autor
Carlos del Pino é missionário da Associação Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT) na Espanha. Bacharel em Teologia, é Mestre em Missiologia (CEM, Viçosa) e em Teologia Prática e Doutor em Hermenêutica Filosófica (Universidad Pontifícia de Salamanca, Espanha). Fundou e coordena o Centro de Formación Cristiana Cor Meum e é instrutor na Faculdade Internacional de Teologia Reformada (FITRef) na disciplina Desafios Missionários Contemporâneos.
Esse artigo foi publicado inicialmente na revista Capacitando para missões transculturais (No 20, 3o Ed. Digital, 2020), produzida pelo Departamento de Educação Missiológica (Demi) da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB). O Martureo obteve a devida permissão para republicá-lo.
[1] L. J. Luzbetak, “Anthropology and Mission”, em: K. Muller; T. Sundermeier, S. B. Bevans, R. H. Bliese, Dictionary of Mission, Theology, History, Perspectives, p. 29. Para uma abordagem mais equilibrada sobre a contribuição da antropologia na missiologia, ver: P. G. Hiebert, O Evangelho e a Diversidade das Culturas, pp. 13-27.
[2] L. J. Luzbetak, “Anthropology and Mission”, em: K. Muller; T. Sundermeier, S. B. Bevans, R. H. Bliese, Dictionary of Mission, Theology, History, Perspectives, p. 28.
[3] Ver: R. D. Shaw, Transculturation, p. 24.
[4] S. Paas, “Post-Christian, Post-Christendom, and Post-Modern Europe: Towards the Interaction of Missiology and the Social Sciences”, em: Mission Studies, 28, 2011, p. 4.
[5] R. Mattos, “Fazei Discípulos de Todas as Nações”, em: C. T. Carriker, Missões e a Igreja Brasileira, Vol. 3, p. 3.
[6] L. D. Pate, Missiologia: A Missão Transcultural da Igreja, pp. 30, 32-33.
[7] K. J. Vanhoozer, El Drama de la Doctrina, p. 62 (nota 14).
[8] Por “ideologia” me refiro ao conjunto de crenças e ideias fundamentais que caracterizam o pensamento e a prática de uma pessoa, sociedade ou época. Pode ser entendida tanto como um modo de pensar individual com as suas diferentes preferências, escolhas, crenças e ideias, como também o sistema de ideias de um determinado grupo que se expressa através de todo o seu conjunto social.
[9] THIESELTON, A. C., New Horizons in Hermeneutics, p. 46.
[10] CARSON, D. A., “A Sketch of the Factors Determining Current Hermeneutical Debate in Cross-Cultural Context”, em: CARSON, D. A., Biblical Interpretation and the Church – Text and Context, p. 23.
[11] H. D. Harvey, Canon and Mission, p. 8.
[12] K. J. Vanhoozer, El Drama de la Doctrina, p. 295.
[13] Von Allmen usa essa mesma ideia em relação à forma como a igreja frequentemente entende o conceito paulino de matrimônio. Ver: J. J. von Allmen, “El Matrimonio Según San Pablo”, em: J. E. Maldonado, Fundamentos Bíblico-Teológicos del Matrimonio y la Familia, p. 60.
[14] A transcrição do texto bíblico em português é um acréscimo meu.
[15] G. Bertram, “εθνος, εθνικος”, em: G. Kittel, Theological Dictionary of the New Testament, Vol. 2, pp. 364-365.
[16] G. Bertram, “εθνος, εθνικος”, em: G. Kittel, Theological Dictionary of the New Testament, Vol. 2, p. 364, nota 1. Para a evolução do uso do termo λαος da LXX e literatura rabínica ao Novo Testamento e primeiros anos da igreja cristã, ver: H. Strathmann, “λαος”, em: Theological Dictionary of the New Testament, Vol. 4, pp. 39-57.
[17] H. Strathmann, “λαος”, em: Theological Dictionary of the New Testament, Vol. 4, p. 51.
[18] Ver: B. Utley, Introducción a Isaías, p. 293.
[19] C. J. Ellicott, An Old Testament Commentary, Vol. 4, p. 576.
[20] C. F. Keil, F. J. Delitzsch, Isaías, p. 1634.
[21] C. J. Ellicott, An Old Testament Commentary, Vol. 4, p. 576.
[22] Ibid.
[23] Ver: J. G. Baldwin, Daniel – Introdução e Comentário, p. 152.
[24] Quanto a esse conflito de entendimento, vemos que se expressa por todo o evangelho de Mateus. Encontramos um bom resumo acerca disso em: D. J. Bosch, Misión en Transformación – Cambios de Paradigmas en la Teología de la Misión, pp. 85-88.
[25] Esta perspectiva tem sido especialmente divulgada por: K. W. Clark, The Gentile Bias and Other Essays. Ver posição contrária a essa em: D. J. Bosch, Misión em Transformación – Cambios de Paradigma em la Teología de la Misión, p. 90.
[26] R. T. France, Matthew, pp. 413-414. Ver também: L. Morris, The Gospel According to Matthew, p. 746, nota 33.
[27] F. P., Viljoen, “The Matthean Community According to the Beginning of his Gospel”, em: Acta Theologica, 2006:2, p. 246.
[28] Ver: K. L. Schmidt, “εθνος, εθνικος”, em: Theological Dictionary of the New Testament, Vol. 2, pp. 369-370.
[29] L. Morris, The Gospel According to Matthew, p. 746.
[30] R. T. France, Matthew, p. 413.
[31] D. J. Bosch, Misión en Transformación – Cambios de Paradigmas en la Teología de la Misión, pp. 90-91.
[32] R. T. France, Matthew, p. 414.