Compartilhando vida com os budistas

Conceitos essenciais que precisam ficar claros, respeito à fé do outro e o testemunho de conversão de um monge a Cristo

Alex Smith

No ambiente plural de hoje, é importante aprender a viver com outros que têm pontos de vista diferentes, bem como saber compartilhar nossa fé com respeito. Fazer isso sem sacrificar convicções pessoais ou comprometer os padrões cristãos demanda muito tato, misericórdia e compreensão. Isso se refere especialmente a compartilhar nosso testemunho cristão com vizinhos e amigos budistas. Sugiro três ações práticas para consideração.

Esclarecendo conceitos essenciais

Entre cristãos e budistas, existem muitos mal-entendidos sobre a definição e os significados de termos e conceitos, fazendo com que eles sejam falsamente considerados equivalentes uns dos outros. Uma discussão paciente pode ajudar a esclarecer essas crenças fundamentais.

Os cristãos devem explicar claramente conceitos-chave que, para os budistas, são difíceis de compreender ou aceitar. O uso de analogias, histórias e ilustrações como lanternas para a compreensão é recomendado junto com o uso das Escrituras. Aqui estão alguns tópicos:

  1. Criação e natureza do universo. Realidade concreta versus ilusão transitória que necessita distanciamento.
  2. Deus, transcendente e pessoal como Criador e Senhor versus o vazio impessoal ou insignificante.
  3. A divindade e a singularidade de Cristo como o Deus/homem e Redentor sacrificial versus apenas um Jesus humano.
  4. Natureza da humanidade com alma/espírito versus reciclagem cármica sem alma/espírito.
  5. Natureza do pecado como rebeldia e atos egoístas que afrontam um Deus santo versus o pecado como uma ilusão, ignorância ou algo que esteja simplesmente matando a vida.
  6. Graça livremente concedida através de Cristo versus a lei absoluta do carma.
  7. Salvação através da morte substitutiva de Cristo em nosso lugar versus carma impiedoso.
  8. Regeneração através do novo nascimento versus reencarnação devido a consequências cármicas acumuladas.
  9. Destino na ressureta vida eterna versus extinção (libertação da existência) no nirvana.

Tenha confiança

  1. Certifique-se de que Deus está trabalhando soberanamente na vida daqueles que ele está chamando à sua igreja, e, então, confie em Deus para fazer o trabalho que é dele.
  2. Esteja ciente de que o Espírito Santo é o principal agente de missão na produção de convicção e conversão. Apenas o Espírito de Deus pode abrir os olhos cegos para a verdade de Cristo. Então, descubra onde Deus está trabalhando e se aproxime.
  3. Somente a poderosa Palavra de Deus proclamada, claramente compreendida e recebida pela fé pode transformar vidas, famílias, sociedades e grupos de pessoas inteiras dominados pela influência budista e humanismo secular em qualquer lugar. Então, medite, memorize e compartilhe a Palavra de Deus sensível e adequadamente.
  4. Seja fiel ao seguir o modelo de Cristo: “Jesus foi por toda parte fazendo o bem” (Atos 10.38). Somente o piedoso testemunho vivo de Cristo nos cristãos, sejam eles crentes nativos ou missionários, pode demonstrar o amor e a paz de Deus aos budistas. Então, seja uma “carta viva sobre Cristo”.
  5. Esteja disponível como instrumento a serviço de Deus. Jonathan Bonk diz: “A vida de Jesus foi cheia de interrupções divinas”. Falo de oportunidades para proclamar, servir e curar mesmo nos momentos mais inconvenientes. Portanto, esteja pronto e preparado para ministrar sempre.
  6. Tenha esperança, porque Jeremias disse: “Se me buscarem de todo o coração, me encontrarão” (Jr 29.13). Então, tenha boas expectativas e seja positivo.
  7. Seja dependente de Cristo sempre por meio da oração, obediência e fé. Interceda fielmente.

Pratique o amor e a paciência

  1. Lembre-se de orar primeiro! Peça a Deus que abra mentes, corações e olhos espiritualmente. Peça ao Senhor que dê discernimento e sabedoria, e traga todos os pensamentos cativos através da obediência a Cristo.
  2. Respeite os seguidores de outras religiões como seres humanos que Deus criou com dignidade. Não destrua sua fé, mas ajude a transferir sua fé do alvo errado para o correto.
  3. Reflita os modelos da casa cristã vivendo de acordo com moral e ética.
  4. Rigorosamente conquiste o direito de falar — seja digno de confiança, honesto, amoroso, íntegro e humilde.
  5. Reconheça que todas as religiões têm algum bem nelas.
  6. Rejeite qualquer atitude de julgamento, crítica ou diversão em relação às crenças dos outros. Abra discussão e diálogo sobre a razão de eles acreditam de determinada forma.
  7. Relacione-se com base no verdadeiro amor cristão e carinho genuíno. Seja um bom vizinho — verdadeiramente amigável e genuinamente atencioso.
  8. Esteja pronto para compartilhar Cristo. Dê-lhes a Palavra de Deus na ocasição apropriada ou quando surgir interesse.
  9. Resista à tentação de pressionar a acreditar ou a ouvir o evangelho. Somente o Espírito convence. Sirva com sensibilidade e paciência à medida que as oportunidades são oferecidas. Por exemplo: ore por eles quando estiverem doentes, encoraje quando estiverem com problemas, ajude-os quando estiverem em crise.
  10. Regozije-se com o que Deus está fazendo e fará na vida deles e de suas famílias.

Ilustrando tais práticas

A seguinte história real esclarece esses princípios fundamentais. Os nomes dos dois homens foram alterados para protegê-los. Alguns anos atrás, conheci o Sr. Tawd, um cavalheiro idoso que foi um sacerdote budista por 20 anos antes de se tornar cristão. Ele nasceu em uma aldeia budista de cerca de 150 famílias na Birmânia, agora chamada de Mianmar. Não havia escolas nas aldeias naqueles dias, então ele foi ao mosteiro budista para estudar por cerca de dez anos.

Depois disso, Tawd entrou no templo budista como novato por cinco anos, e então passou a ser um monge budista pleno pelos próximos 15 anos de sua vida. Para obter um diploma de bacharel em budismo, ele deixou sua aldeia. Enquanto estudava na universidade budista, Tawd avançava o máximo que podia na religião budista. Os líderes budistas de Sangha o reconheceram como professor conferencista no budismo. Eles o enviaram para visitar muitas cidades, grandes e pequenas, em toda a região, para palestrar sobre o budismo.

Um dia ele foi ensinar numa certa cidade onde muitas pessoas falavam inglês. Como ele não falava inglês com fluência, Tawd decidiu que iria aprender inglês para que ele pudesse falar com as pessoas daquela região sobre o budismo. Ele descobriu que o único professor qualificado para ajudá-lo com o inglês era um líder cristão leigo que estava pastoreando, sem pagamento, uma pequena igreja na cidade. O nome dele era o Sr. Thom.

Com o tempo, Tawd se aproximou de Thom e perguntou se ele poderia lhe ensinar inglês. Pastor Thom disse que ficaria feliz em fazê-lo, mas tinha duas condições. Primeiro, Tawd teria de se encontrar com ele todos os dias durante uma hora, das 8h às 9h da manhã. Isso deu ao pastor um contato contínuo com Tawd. Em segundo lugar, Thom disse que eles precisariam de um livro, e o livro de texto que escolheu como instrutor era o Novo Testamento em inglês. O pastor entendeu que a Palavra de Deus acabaria por falar por si mesma. Tawd aceitou as duas condições, dizendo: “Para mim, nenhum problema”. A verdadeira razão pela qual o sacerdote budista queria aprender inglês era obter um conhecimento mais amplo a partir da leitura de livros budistas em inglês. Durante seis meses, Tawd estudou diariamente com Thom para que pudesse espalhar o budismo entre as pessoas que falavam inglês por lá.

Depois de algum tempo, Tawd, o sacerdote budista, se deparou com João 14.6, e pareceu estar confuso sobre esse verso. Ele se perguntou como poderia ser isso. O Buda afirmava “apenas apontar o caminho”, mas Jesus disse: “Eu sou o caminho”. O Buda disse: “A luz surgiu dentro de mim”, mas Jesus declarou: “Eu sou a luz do mundo”. O Buda disse: “Aprendo a verdade pela autointuição”, mas Jesus afirmou: “Eu sou a verdade, eu sou o caminho”. Então, essas perguntas desafiaram Tawd dia e noite. Os “eu sou” de Jesus contrastavam com os “eu sei” do Buda. Qual era a verdade sobre a Verdade? Lentamente, a partir do estudo da Bíblia e de discussões com o pastor, a luz raiou sobre Tawd. Ele se sentiu motivado a mudar e logo aceitou a Cristo, deixando o sacerdócio logo depois.

Tawd me explicou que a filosofia de Buda era muito rica e cheia de bons ensinamentos, mas questionava Deus. Os estudiosos budistas não acreditavam no Deus Criador, então o dilema de Tawd estava centrado em nenhum Deus versus o Deus da Bíblia. Enquanto Tawd meditava na Bíblia, ele começou a descobrir Deus como criador, sustentador e salvador. Ele já sentia que os méritos dos humanos não podem satisfazer às exigências do carma. Ele tinha fielmente praticado muitas vezes as 227 regras para seguir como sacerdote budista, mas ainda se sentia insatisfeito. Essas eram apenas as leis básicas, na verdade existem milhares e milhares de regras a serem seguidas no caminho da “pureza”. Como ele poderia cumprir todas essas? Para qualquer pessoa, isso seria impossível. Tawd concluiu que, no budismo, o futuro era incerto, e que não havia muita esperança de se alcançar o nirvana.

Em contraste, ele disse a Thom que o Senhor Jesus disse: “Eu sei que vocês são minhas testemunhas”. Nessas palavras estavam presentes a certeza e a esperança. Assim, apesar dos altos padrões budistas na própria vida de Tawd, de repente ele percebeu que a esperança e a vida verdadeira só seriam encontradas em Cristo, o Salvador em quem estão todas as promessas de Deus. Isso adicionou uma dupla alegria. Tawd não rejeitou as boas partes dos ensinamentos de Buda, mas reconheceu que Buda tinha apenas parte da verdade e parte da luz, porque o próprio Buda estava procurando a verdade. Ele acreditava que, ao descobrir Cristo como Deus revelado, ele encontrou a verdade. No budismo, os méritos que levam a vinte céus e os deméritos que levam a muitos infernos deveriam ser contrastados com a graça de Deus provida em Cristo e recebida livremente apenas pela fé. Certamente, o carma é um juiz, mas o carma e o mérito não podem equilibrar um ao outro, argumentou Tawd.

Hoje Tawd é muito idoso, mas ainda ensina jovens cristãos a se relacionar com seus vizinhos e a testemunhar a eles, bem como a amigos e familiares budistas. Thom faleceu há muitos anos. A graça do evangelho de Deus ainda é o “poder de Deus em ação para salvar todos os que creem” (Rm 1.16).

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Sobre o autor
Alex Smith é missionário da OMF Internacional há mais de 45 anos. Serviu por duas décadas entre budistas na Tailândia, e, desde então, ministra ao redor do mundo. Ele dá aulas sobre o Budismo, Cristianismo e Religiões Globais em seminários na Ásia e no ocidente.

Esse artigo tem como base o capítulo 6 do livro O Budismo através do olhar cristão, de Alex Smith, publicado pela OMF Internacional (OMF Books) em parceria com a Sepal. A publicação pelo Martureo com as devidas edições foi devidamente autorizada pela OMF.

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