“A missão é muito mais que uma tarefa, define a identidade da igreja”

Entrevista com Michael Goheen, autor de A Missão da Igreja Hoje

Faz dois anos que o Martureo, em parceria com a Editora Ultimato e o Seminário Teológico Servo de Cristo, lançou o livro A Missão da Igreja Hoje – A Bíblia, a história e as questões contemporâneas, de Michael W. Goheen, obra que tem sido referência em diversos cursos de Missões. Confira esta entrevista que o autor deu ao Bibotalk. A versão em vídeo está disponível aqui.

Quais referenciais em missiologia te ajudaram a escrever A Missão da Igreja Hoje?

Goheen – A primeira influência, e talvez a mais forte, é a do missiólogo holandês J. H. Bavinck (1854-1921) [Leia aqui o artigo sobre Bavinck “Teologia do Reino como paradigma para o ministério do evangelho”], um dos pensadores mais profundos que já li. Em segundo lugar, meu professor no Westminster Theological Seminary, Harvie M. Conn (1933-1990). Ele frequentemente citava Bavinck, e nos levava a ele, muito provavelmente por isso aprendi a admirá-lo. Em seguida, está Lesslie Newbigin. Meu doutorado foi escrito com base nos escritos de Newbigin. Depois disso, um pouco mais adiante, vem David Bosch. Ele me ajudou a pensar e a reestruturar a missiologia.

Como você construiu a sua própria teologia missional?

Goheen – É uma pergunta difícil. Comecei a dar aula de missiologia em 1988, era um jovem tentando ensinar missiologia, e não havia muitos modelos disponíveis. A missão estava mudando rapidamente, todos sabiam que a missiologia antiga estava desatualizada, mas como pensamos missiologia no presente? Então Harvie Conn me disse: “Vá para Bavinck”. E eu fui. As cerca de trinta ou quarenta páginas iniciais de seu livro captaram-me profundamente. Nelas, Bavinck traça a missão desde a criação até a consumação, em outras palavras, ele usa uma abordagem narrativa, falando sobre o que hoje chamamos de missão de Deus e a missão da igreja dentro da missão de Deus. Eu me lembro de ter pensado que, estando ele correto, a missão é muito mais que uma simples tarefa, a missão define a própria identidade da igreja. Naquela época, não conseguia articular isso dessa forma, mas estava me sentindo compelido a isso. O problema é que a missiologia focava apenas em levar o evangelho aos povos não alcançados e distantes no planeta. Como você ensinaria missiologia se cresse que ela é o próprio coração da igreja de Deus? Ministrei aquele curso da melhor maneira que pude, e fui convidado a repeti-lo dois anos depois, ainda pensando sobre com que aquilo se pareceria. Passando na frente de uma livraria anglicana, deparei-me com o livro Missão Transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, de David Bosh. Li a obra pelo menos três vezes. É um livro extenso e denso, isso me tomou muito tempo. Até escrevi um comentário sobre esse livro para meus alunos, porque era um conteúdo muito difícil de ser assimilado. Isso me fez enxergar uma nova maneira de ensinar missiologia, começando com as Escrituras – como a missão de desenrola ao longo na narrativa bíblica –, e trazendo esse diálogo entre missão e Escritura para o presente. O meu conteúdo e a minha perspectiva teológica ainda estavam sendo moldados por Conn, Bavinck e Newbigin, e eu também passei a me inspirar na estrutura do Bosch.

É interessante, pois são pensadores de diferentes tradições. Que novos aspectos você inseriu?

Provavelmente eu não trouxe nada de novo. Eu me descrevo como um popularizador. Costumo dizer brincando que eu não sei o que quero ser quando crescer, se um pastor ou um acadêmico. Vejo-me com alguém que constrói uma ponte entre os ambientes acadêmico e ministerial. Se eu trouxe algo novo, talvez tenha sido atualizar para hoje algumas das ideias deles, trazê-las para perto de questões com as quais eles não lidaram. David Bosch, por exemplo, não discute pentecostalismo, nem missões urbanas, e não podemos deixar de falar disso hoje.

Quer saber mais?

Leia aqui o artigo “Qual o objetivo da missão?”.

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