Jordânia, campo missionário
- 22/03/2021
- Postado por: Martureo
- Categoria: Blog
No coração do Oriente, um país muçulmano hospitaleiro e carente das boas novas
A seguir está o relato de um cristão brasileiro que viveu na Jordânia por dois anos com o intuito de demostrar, com palavras e ações, as boas novas do reino de Deus naquele país. Por questões de saúde na família, ele, esposa e filhos precisaram retornar ao Brasil. Mas fica aqui o incentivo aos cristãos com chamado transcultural: “Se você deseja fazer o nome do Mestre conhecido, na Jordânia estão milhões de pessoas espiritualmente necessitadas do amor e da graça de Deus”.
Depois de vivermos no país por dois anos, o sentimento é que deixei metade do meu coração naquele local. Nosso segundo filho nasceu na Jordânia, vivemos experiências incríveis, deixamos amigos e trouxemos nas malas boas memórias e relatos de um mundo de oportunidades.
Geograficamente, o Reino Hachemita da Jordânia está localizado estrategicamente no centro do Oriente Médio. O país faz fronteira ao norte com a Síria; a nordeste, com o Iraque; a leste e sul, com a Arábia Saudita; e a oeste, com Israel e Cisjordânia. Há uma estreita saída para o oceano ao sul, no Golfo de Aqaba. O belo litoral que atrai turistas é passagem por terra entre Israel e Arábia Saudita. De lá, também é possível avistar o Egito do outro lado do Mar Vermelho.
Juntos, Jordânia e Israel formam o mapa da localização do povo de Deus no Antigo Testamento. Assim, quem faz turismo pela Terra Santa em geral inclui no roteiro ambos os países. Se você deseja conhecer o local onde Jesus foi batizado; o deserto onde João Batista vivia; onde Elias foi arrebatado; o Monte Nebo, onde Moisés avistou a terra prometida e faleceu; o Monte Gileade; lugares onde Jesus caminhou e ministrou, como a cidade de Gadara; precisa ir à Jordânia. Além disso, o país recebe turistas do mundo todo para visitarem a histórica cidade de Petra, o deserto do Wadi Rum e as incríveis ruínas da cidade romana de Gerash, entre outros pontos que figuram entre os mais belos do mundo. O país todo é um sítio arqueológico. De templos romanos à castelos do período das cruzadas, há muito a ser visitado.
Com quase 11 milhões de habitantes e uma população majoritariamente árabe, o reino não abriga apenas jordanianos, mas muitas outras nacionalidades. Os iraquianos, imigrantes e refugiados das guerras que assolaram seu país, possuem considerável presença na nação vizinha. Da mesmo forma, os sírios, refugiados de um conflito ainda insolúvel. Inclusive, um dos maiores campos de refugiados sírios do mundo fica no nordeste do país. Podem-se encontrar também muitos sudaneses, egípcios e filipinos trabalhando em determinados setores da economia, como na construção civil, em portarias de edifícios residenciais e em trabalhos domésticos. No entanto, são os palestinos o maior grupo não jordaniano presente na nação. Desde a criação do Estado de Israel em 1948, um massivo grupo de palestinos se refugiou no vizinho mais próximo. Por ser uma questão geracional, os palestinos não possuem mais no país o status de “refugiados” como os sírios. A maioria deles está engajada na sociedade de tal forma que, ao chegar ao país, você conviverá com palestinos sem ter essa consciência.
Economia, governo, cultura e religião
O que pode surpreender muitos é que, ao contrário dos vizinhos, a Jordânia possui uma das mais baixas reservas de petróleo do mundo – definitivamente, essa não é a grande fonte de riqueza. O país possui refinarias, mas não extrai petróleo. Na verdade, o estado jordaniano não consta entre os ricos países árabes. Na lista de 2020 do FMI, ocupa somente a 88º posição no ranking do PIB nominal, e o 106º lugar em termos de PIB per capita (dados do FMI de 2019). Apesar de não ser um país abastado, o IDH é muito próximo ao brasileiro. Ou seja, em grandes centros, você encontrará escolas de padrão internacional, excelentes hospitais e oportunidades de lazer e cultura. No interior, a vida se torna mais desafiadora.
A Jordânia é um reino, e, portanto, governada por um rei. Ele é membro de uma família, a Hachemita, cuja dinastia ainda não completou um século: o país se tornou independente em 1946. Não se trata de uma ditatura – o rei não possui poderes absolutos, há uma constituição e um parlamento. Todavia, não como acontece no Reino Unido, seu poder não é simbólico. A família Hachemita está ligada diretamente ao profeta do islã, Maomé, sendo assim muito importante na história do Oriente Médio e da religião islâmica. Talvez seja essa uma das razões para o excelente relacionamento internacional do reino com as outras nações árabes. Na verdade, a diplomacia jordaniana é reconhecida internacionalmente: foi um dos primeiros países árabes a fazer um tratado de paz com Israel.
A habilidade nas relações exteriores é refletida internamente. A Jordânia é um oásis de paz em meio as diversas guerras ao seu redor. O país se encontrava apenas na 57º posição no ranking de terrorismo global da organização Vision of Humanity divulgado em 2019. Na lista de perseguição aos cristãos da Missão Portas Abertas de 2021, aparece na 38º posição. Em suma, alguém que deseja conhecer ou residir nesse país não deveria se preocupar com o terrorismo. Além disso, a violência urbana é baixíssima. Sempre me senti seguro. O dinheiro em espécie ainda é predominante, e os bancos não possuem seguranças, nem portas com detectores de metais.
A cultura, a vida comum e o dia a dia são incríveis. Os jordanianos são muitos hospitaleiros e abertos a novos relacionamentos. Brasileiros são vistos como iguais e são muito bem recebidos. Sempre, ao revelar nossa nacionalidade, recebíamos uma dose extra de carinho.
Os hábitos são noturnos. Sinto falta do trânsito agitado por volta da meia noite. Nunca me esqueço quando fui acordado por um amigo jordaniano às duas horas da manhã me convidando para ir a uma cafeteria. O café é a bebida no trabalho, no carro, nas conversas noite adentro. Não existem bares, mas cafeterias.
A amizade e a lealdade estão no âmago das relações. A honra e a vergonha são as lentes pelas quais o mundo é visto. Fila, trânsito e moda são palavras com um entendimento muito diferente do nosso. Os aluguéis e as prestações escolares são pagos anualmente, quando o contrato é fechado. A cultura é robusta, patriarcal e máscula, e o uso da força em medidas variáveis ao contexto é uma arte que ninguém ensina, mas que podemos assistir e devemos aprender para uma real aculturação. O indivíduo não é visto antes do grupo ao qual ele pertence. Para você entender, ninguém sai para comprar uma roupa sozinho. Tudo é coletivo.
No imo desse povo está o islã. Com uma população majoritariamente muçulmana, os cristãos e adeptos de outras religiões possuem tolerância religiosa, mas não plenas liberdades. Na prática, contudo, a força da cultura islâmica coloca em xeque essa tolerância. Muçulmanos não podem aderir a outras crenças, por força legal, cultural e familiar. Não obstante, o islã predominante no país não é das vertentes mais radicais.
Quando chegamos, estávamos assustados. Levamos na bagagem muitas concepções equivocadas, apesar do esforço para não o fazer. Mas a realidade nunca é igual ao mapa. Em nossa experiência, foi muito positivo que a vivência fosse bem diferente do que nos foi apresentado. Chegamos alarmados e saímos admirados. Como em todo país, existem dificuldades e peculiaridades, mas muito está relacionado à capacidade de adaptação de cada pessoa.
Empreendedorismo é bem-vindo!
As oportunidades de trabalho formal para estrangeiros são escassas. O país prioriza, por lei, o cidadão a um estrangeiro com a mesma formação. Assim, a não ser que você tenha uma formação cuja demanda supere o número de profissionais locais, dificilmente entrará no mercado formal de trabalho. No entanto, empreendedorismo e criatividade são bem-vindos. [Leia aqui o artigo “Deus se interessa por negócios”.]
Para aqueles que desejam aprender o idioma, as escolas possuem valores relativamente acessíveis em comparação às escolas de idioma em outros países árabes.
Muitos, com um entendimento missional que abriga o esforço pela justiça social, procuram oportunidades de atuar com refugiados. Nesse caso, comunidades sírias, iraquianas, palestinas, sudanesas e outras realmente necessitam de auxílio naquele local.
Enfim, se você têm um chamado transcultural e deseja fazer o nome do Mestre conhecido com sua vida e palavras, ali estão milhões de pessoas espiritualmente necessitadas do amor e da graça de Deus. Elas conhecem um cristianismo que não reflete as boas novas. Ouviram o nome de Jesus, sabem algumas histórias, mas nunca tiveram contato com o evangelho plenamente. É um campo e que há lugar para cristãos dispostos a servir, que tenham perseverança e flexibilidade para se adequar às exigências da nova realidade.
E, para aqueles que desejam apenas conhecer lugares incríveis e um povo apaixonante, ainda que em curtíssimo prazo, a Jordânia também é um ótimo destino.
Por questão de segurança, o nome do autor do texto não foi inserido.